Profissionais do transporte escolar enfrentam situação “muito difícil”

Em Prudente, três motoristas que vivem deste trabalho apontam a queda vertiginosa da renda familiar durante o período; “estamos sem saber o que fazer”, relatam

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 03/06/2020
Horário 11:28
Cedida - Roberto propõe que as vans sejam utilizadas para desafogar o transporte coletivo municipal
Cedida - Roberto propõe que as vans sejam utilizadas para desafogar o transporte coletivo municipal

 

A motorista de transporte escolar Ana Paula da Silva Rodrigues, 49 anos, se emociona ao falar da situação que ela e seu marido Roberto Aparecido Rodrigues, 54 anos, também motorista, enfrentam no período de aulas remotas motivadas pela pandemia da Covid-19. Além da situação financeira muito abalada, Paula sofre pelas três jovens monitoras que trabalhavam junto com o casal, que também sobrevivem da renda gerada pelo transporte de alunos. “É muito difícil, pois elas são pessoas muito boas, nos ajudam muito, também estão perdidas e eu não posso ajudá-las”, desabafa.

Paula e Roberto fazem parte de uma das classes profissionais mais abaladas pelo momento. Segundo eles, quase toda sua renda desapareceu com o início das medidas de restrição. “Perdemos vários contratos e os sete ou oito que ficaram, estão ajudando com 50% do valor”, destaca Roberto. Sem qualquer outra fonte de renda, os prudentinos estão fazendo algo que jamais imaginariam: vendendo os patrimônios pessoais conquistados com muito suor. 

Roberto colocou seu veículo particular à venda, além de sua van, para tentar livrar-se do financiamento do veículo de trabalho que nos últimos meses não tem conseguido pagar. “Nossos amigos têm nos dado cestas básicas. Tem motoristas de transportes escolares conhecidos que arranjaram, graças a Deus, bico de servente de pedreiro. Nós não conseguimos, sequer, o auxílio emergencial do governo. Estamos procurando qualquer trabalho”, destaca Paula.

Ela vai além, lembra que todo início de ano, pensando no conforto e segurança das crianças que carregam, fazem ajustes e revisões completas nos dois veículos que dispõem. Trocam pneus, fazem vistoria, ajustam peças e acabam deixando estas contas parceladas até o mês de junho. Agora, como pagar? O casal ainda não encontrou resposta definitiva para a questão, mas já vem fazendo acordos de prazos com os cartões de crédito. “Estamos sem saber o que fazer”, enfatiza a esposa.

Roberto enxerga uma saída enquanto aguarda com angústia o retorno das atividades presenciais escolares. “Venho acompanhando o problema do transporte coletivo de Prudente com a superlotação de algumas linhas. Nossos veículos são preparados em conforto e segurança para fazer esse trabalho. Se nos fosse permitido, seria algo bom para o cidadão e daria fôlego a nós”, garante.

A reportagem questionou a Prefeitura sobre a viabilidade da proposta, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Solidariedade de famílias

Paula e Roberto afirmam que notaram bondade e gratidão de alguns pais que seguem ajudando mesmo sem utilização do serviço. Da mesma forma, o motorista de transporte escolar Elias Rodrigues Filho, 49 anos, afirma que ele e a esposa, Andréia, que atua na van como monitora, tem sobrevivido com o auxílio desses clientes que não os abandonaram.

NOSSOS AMIGOS TÊM NOS DADO CESTAS BÁSICAS. TEM MOTORISTAS DE TRANSPORTES ESCOLARES CONHECIDOS QUE ARRANJARAM, GRAÇAS A DEUS, BICO DE SERVENTE DE PEDREIRO. NÓS NÃO CONSEGUIMOS, SEQUER, O AUXÍLIO EMERGENCIAL DO GOVERNO

Ana Paula da Silva Rodrigues

“Logo com o início da quarentena, já perdi alguns alunos, depois de um mês mais alguns encerraram contrato, os pais diziam que estavam sem emprego ou tiveram o salário reduzido”, explica Elias. É o trabalho com transporte que sustenta a família e os três filhos que vivem com ele. O fôlego que a família conseguiu foi receber o auxílio emergencial que os têm mantido de pé mesmo com queda da renda em mais de 50%.

Um dos clientes que foram solidários ao “Tio Elias” foi Fernando Mauro Gandini Palácio, 52 anos, que mesmo tendo queda acentuada na renda familiar, sendo vendedor autônomo, fez questão de manter o pagamento, ainda que com uma redução. “Não achei justo deixá-los, seria muito fácil. E se as aulas voltarem e eles não tiverem mais condições de continuar com o trabalho que fazem, eu mesmo ficaria na mão, pois é neles que confio”, ressalta.  

SAIBA MAIS

De acordo com o governo federal, uma nota técnica, feita no âmbito da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), orienta que consumidores e fornecedores negociem soluções alternativas, antes de decidirem pela ruptura do contrato.  A nota recomenda a busca por uma solução harmônica do problema, evitando ao máximo a judicialização. Nesse sentido, o ideal é negociar descontos proporcionais aos dias de serviço não prestados, bem como descontos decorrentes de diminuição de gastos.             Acesse a norma técnica completa em: https: //www.novo.justica.gov.br/news/coronavirus-senacon-divulga-nota-tecnica-com-orientacoes-sobre-relacao-entre-consumidores-e-servicos-de-transporte-escolar/sei_mj-11721681-nota-tecnica-trasnporte-escolar.pdf

FotoAULAS: Cedida

Tio Elias e tia Andréia no exercício da função de transportadores de alunos 

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