Como explicar para uma criança um assunto delicado como o abuso sexual infantil? A Seduc (Secretaria Municipal de Educação) de Presidente Prudente, por meio do Sace (Setor de Ações Complementares à Educação), encontrou a resposta em um material didático que trabalha a temática em forma de fábula. A história, intitulada "O Segredo de Tartanina", utiliza personagens do imaginário infantil para transmitir a mensagem que, embora narrada em linguagem metafórica, não deixa de causar impacto em quem a lê. Na manhã de ontem, psicólogos escolares, assistentes sociais e orientadores pedagógicos reuniram-se no Ceforppe (Centro de Formação Permanente dos Profissionais da Educação de Presidente Prudente) para trocar experiências sobre o projeto, que abrange um conjunto de atividades de prevenção aos diferentes tipos de violência contra crianças e adolescentes.

Orientadores pedagógicos se reuniram para trocar experiências
O objetivo das ações, de acordo com a educadora em Saúde Pública da Seduc, Selma Martin, é conscientizar os alunos sobre situações de vulnerabilidade e identificar casos de suspeita ou confirmação de abuso e violência. O projeto é promovido em 32 escolas de ensino fundamental da rede pública municipal, atinge 9 mil alunos e envolve 32 orientadores pedagógicos.
Na narrativa, Tartanina é uma tartaruga alegre e cheia de vida que acaba sendo atraída pelo polvo Malvo até o seu quarto para tirar fotos sem o casco. Presa no impasse sobre contar ou não o ocorrido, ela carrega a confidência, descrita na história como "tão pesada quanto um baú", para todo lugar que vai, até que decide se libertar do seu agressor e revelar o seu segredo. Para Selma, ao fazer a leitura da fábula, a criança capta rapidamente a mensagem e entende que aquilo está errado, sabendo identificar o problema quando estiver em uma situação de abuso semelhante. "Ensinados os conceitos, o aluno aprende a diferenciar os tipos de violência e a entender que o seu corpinho é privado. Além disso, o projeto incentiva quem passou por isso a se abrir com o professor, que, tomando conhecimento da situação de abuso, encaminha o caso para o Conselho Tutelar e Creas . A escola dá todo o suporte", explica.
Após a leitura do conto da Tartanina, as crianças passam por um período de produção, onde confeccionam desenhos, redações e peças de teatro sobre o material. Para a assistente social Rita de Cássia Gonçalves, as ações favorecem medidas autoprotetivas. "Aqui no município, o número de casos de violência física é superior aos de violência sexual, contudo, é importante salientar que, muitas vezes, o abuso é silenciado porque a criança não tem conhecimento sobre a condição em que se encontra", aponta.
A assistente social expõe que o agressor sexual é normalmente um conhecido da criança e faz parte do ambiente familiar, o que agrava ainda mais o problema. "O agressor seduz e confunde a criança, levando esta a acreditar que se trata de um carinho especial. Desta forma, a vítima fica anos sem saber o que realmente está se passando", explana.
A orientadora pedagógica da Escola Municipal Rui Carlos Vieira Berbert, Cristiane Spiguel, aprova a iniciativa e pontua que os trabalhos neste sentido trouxeram resultados positivos para a unidade. "O material foi aplicado em todas as salas da escola e gerou uma grande receptividade entre os alunos, que puderam entrar em contato com a situação narrada no livro e assimilar o que é ali tratado. Ao ler a história, as crianças aprendem a se proteger, o que fazer e a quem pedir socorro", denota.