Semanalmente, este diário noticia diversas apreensões por tráfico de drogas decorrentes de flagrantes efetuados pela Polícia Militar Rodoviária, na região de Presidente Prudente. De acordo com o balanço dos últimos dois anos fornecidos pela 2ª Companhia do 2º Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, a pesagem final dos entorpecentes apreendidos durante as ocorrências cresceu 34,61%. Isso porque em 2017 o policiamento recolheu aproximadamente 12.945,6 toneladas de drogas, número que aumentou em 2018 para 17.426 toneladas. Dentre os tipos mais comuns está a maconha, cocaína, pasta base e crack. Na contramão deste valor, a quantidade de flagrantes continuou estável, uma vez que diminuiu de 134 para 132 entre os dois anos.
Para o tenente PM Daniel Bombonati Martins Viana, o aumento considerável no total de drogas apreendidas tem relação com “grandes apreensões” ocorridas no ano passado. “Diuturnamente, estamos batendo no tráfico de drogas, especialmente, com o apoio do TOR [Tático Ostensivo Rodoviário]. Consequentemente, os números repercutiram e muitas vidas foram salvas, pois se pegarmos 17 toneladas e transformarmos em porções de cada 2 gramas resultam em muitos invólucros que acabariam atrapalhando muitas famílias”, salienta Daniel. Ainda, de acordo com o tenente, por meio do trabalho das equipes os números também repercutiram no cenário estadual.
“A nossa companhia tem trabalhado no combate ao tráfico de drogas. De toda a droga apreendida no Estado de São Paulo, o nosso batalhão, que engloba regiões de Araçatuba, Bauru, Assis e Prudente, foi responsável por 60% do total apreendido. Dentro do batalhão, a nossa companhia foi responsável por 40%. Então, na proporção do Estado temos contribuído muito”, afirma o tenente. E este número considerável de flagrantes ocorre constantemente pelo fato de que a rodovias regionais são eixos que cruzam fronteiras, o que facilita a ação dos criminosos que almejam traficar os produtos. Em específico, aos que saem do Paraguai e Bolívia.
“A nossa rodovia é utilizada para escoamento de mercadorias [de empresas] com grande fluxo para capitais. Mas, também temos a plena convicção de que a rota é utilizada por contrabandistas e traficantes, bem como para outras séries de crimes”, explica Daniel. Desta forma, os policiais intensificam a fiscalização em ônibus intere6staduais e veículos como carros, caminhões e caminhonetes que podem levar entorpecentes ocultamente.
Pontos estratégicos
E para que os flagrantes não passem despercebidos, a Polícia Militar Rodoviária possui informações sigilosas sobre os principais pontos para fiscalização. “Os nossos policiais sabem onde [os traficantes] podem passar, qual a rota mais utilizada por eles, as características observadas de imediato, como comportamento e veículo”, salienta. “Antigamente, tínhamos o perfil do criminoso, hoje, o tráfico não tem cara. Prendemos adolescentes, idosos que se dizem religiosos, gestantes, e pessoas de diversas funções públicas”.
Pessoas com baixos poderes aquisitivos e que apresentem perfil vulnerável. Esta é a característica que os “chefões do tráfico” buscam no momento de contratar indivíduos para efetuarem o transporte internacional dos entorpecentes. E este serviço criminoso promete aos contratantes o recebimento de valores fixos que variam entre R$ 1 mil e R$ 2 mil, sendo que na hierarquia da organização criminosa, tais pessoas são consideradas a parte de baixo do “negócio”. Nas ocorrências de tráfico internacional de drogas atendidas pela Polícia Federal em Presidente Prudente, é comum encontrar flagrantes com diversas características, envolvendo pessoas de diferentes funções, nacionalidades e idades.
“A Polícia Federal apura casos que configuram o tráfico internacional e, geralmente, detém pessoas que saem de países vizinhos e acabam entrando no Brasil. Pelo fato de possuírem baixo poder aquisitivo, acabam se submetendo ao serviço pelo valor prometido”, explica o delegado de Polícia Federal, Daniel Coraça Junior, chefe da delegacia em Prudente. De acordo com a autoridade, “é muito raro” que os detidos, muitas vezes estrangeiros, falem sobre o contratante, que seria o “patrão” nesta situação. “Eles têm medo de que, eventualmente, ao final do cumprimento da pena estabelecida, sofram alguma retaliação. Além do mais, o receio também está dentro do sistema carcerário, uma vez que ao passar informações durante o depoimento podem ser chamados de ‘cagueta’ [termo informal que denomina pessoa que denuncia outra]”, pontua o delegado.
Trabalho de investigação
Após o depoimento prestado na delegacia, o acusado é submetido à audiência de custódia, procedimento instaurado quando a pessoa é presa em flagrante por algum delito. Dentro de uma sala restrita a acusados e autoridades, o juiz responsável tem por objetivo analisar a legalidade da prisão e avaliar se a parte responderá ao processo em liberdade ou cárcere. Segundo Daniel, em situações que envolvem o tráfico de drogas, na maioria das ocorrências o índice de que a prisão provisória seja mantida “é alto”.
Enquanto a acusação permanecer em cárcere, o trabalho da Polícia Federal continua. Depois de recolhidas informações sobre possíveis origens do tráfico, os agentes iniciam o processo de investigação criminal. “A Delegacia de Prudente não trabalha sozinha. Para tanto, conta com o auxílio das delegacias de outras cidades do Estado de São Paulo para que haja a troca de informações, o que amplia o espectro da investigação”, salienta. Desta forma, busca-se obter “resultados efetivos” por meio do flagrante.
Foto: Roberto Kawasaki
Delegado Daniel, da Polícia Federal, atende a casos de tráfico internacional de drogas