Quatro golaços do coronavírus

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 11/08/2020
Horário 06:05

O Campeonato Brasileiro começou no último final de semana e, para aproveitar o gancho, lembrei de quatro golaços que o coronavírus já marcou contra a gente.

1 – Trabalho 

Não é sobre home office ou reuniões on-line. Isso nós tiramos de letra, bem ou mal. O problema é mais embaixo. De uma hora para outra percebemos que podíamos ser mandados embora ou, então, que a grana do mês talvez não fosse ser realmente suficiente. Após anos em uma mesma empresa, fazendo o melhor que você pode fazer, com muitas vitórias, elogios, metas batidas e abraços amigos, talvez a frase: “Desculpe, mas a empresa vai te demitir” ficou muito real e o medo de estar em uma fila de desempregados, nesta altura do campeonato da vida é horrível. Empreendedores, profissionais autônomos, liberais também perderam o sono porque bem ou mal o dinheiro aparecia. Um esforço aqui, um gato ali e ok, os boletos estavam honrados. Mas agora... É golaço ou não?

2 – Casamento 

Estar junto não significa viver junto. Guarde esta frase para a próxima vez que sua esposa ou o seu marido, parceiro, parceira, te chamar para discutir “o momento em que vivem”. A frase é de arrepiar a espinha. Mas a sentença é clara. Casais dormiam juntos, acordavam juntos, mas cada um ia para seu lado, passavam o dia fora, às vezes almoçavam juntos, mas encontravam-se somente à noite e na sexta-feira até rolava um “sextou erótico” bacana. Agora não. Acordamos juntos, dez minutos depois, juntos. Meia hora depois, ainda juntos. Duas horas depois, ahhhhhhhhhhh... Na hora do casamento, o padre não falou de problemas como a quarentena: “Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na vida normal e na quarentena... “Não tinha este aviso. Esse gol foi no ângulo!

3 – Filhos

Apertem os cintos, que agora o piloto vai sumir. O que fazer com os pequenos 24 horas por dia dentro de casa? Eu comecei até bem, estudando com eles pela manhã, fazendo exercício, puxando fila para brincar com jogos de tabuleiro, acompanhando as lives da escola com a sensação de que era meu primeiro dia de aula. Até fotinha no Facebook eu coloquei e ganhei vários likes. Mas depois de três meses assim, amigo... A cara de decepção da criança quando olha para você e descobre que o super herói aqui é um inútil em divisão de decimais é duro. Mas nem o Taffarel pegava esse.

4 – Condição Social

Sentir que faz parte da classe média alta fora de uma quarentena é uma coisa. Dentro dela, com o isolamento social, é outra totalmente diferente e a sua pretensa noção de “condição social estável” vai para cucuia. Porque é fácil ter um dinheiro aqui e outro ali para ir ao cinema ou comer no restaurante do shopping vez ou outra, deixar filhos em porta da escola, correr em esteira da academia, liberdade para usufruir de serviços fundamentais para uma vida mediana como cabeleireiro, massagens e estéticas, pet shops e corredores de shopping. Agora, viver como classe média dentro de um apartamento de dois quartos e lavado, sem ter como ir para onde quer que seja, sem ter como fugir para uma fazenda, um resort selecionadíssimo e muito menos conseguir fazer uma sequência banal de exercício em casa sem derrubar um vaso é receber a triste notícia de que você é pobre. E aí, não há livro de coachs que consiga te convencer de que é feliz. Aliás, como diz o professor Luiz Felipe Pondé, não há nada mais classe média do que querer “ser feliz”.
E o placar só aumenta.
 

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