Na Avenida Washington Luiz, em Presidente Prudente, nossa aldeia sagrada, os carros passavam, pessoas apressadas iam e vinham, mas no canto de uma esquina alheia à correria, ela estava imponente e majestosa, uma jaqueira com sua sombra para aliviar o forte calor. Para muitos, era apenas uma árvore a mais na paisagem urbana. Para mim, Alceu, Nelito (in memoriam), Demetrio, Roy, Terrin, Célio, Tiago, Zé Roberto, Antero, e um grupo de adolescentes com os hormônios à flor da pele e a vida pela frente, era o nosso porto seguro, o epicentro de nossos dias.
Nosso ponto de encontro, embaixo de sua sombra generosa, a jaqueira se transformava no nosso camarim particular. Ali, a chata realidade era jogada ao chão, nascia o grãos das ilusões e os pensamentos se abriam. Era o palco para as confissões dos primeiros amores, as piadas internas que só a gente entendia e os planos mirabolantes para o próximo fim de semana. As risadas ecoavam, as conversas se entrelaçavam e o tempo, ah, o tempo parecia parar. Não havia pressa, nem preocupações que não pudessem ser resolvidas com um bom papo e a brisa suave que balançava as folhas da nossa jaqueira.
Nossa inocência era o nosso maior tesouro. A vida parecia uma estrada sem buracos, e cada novo dia era uma aventura a ser desvendada. Éramos ingênuos, sim, mas essa ingenuidade era o nosso passaporte para a felicidade plena. Naquela sombra, a gente se sentia invencível, capaz de conquistar o mundo com um sorriso e uma promessa de amizade eterna.
A jaqueira era testemunha silenciosa de nossos sonhos mais loucos e de nossas fantasias mais secretas. Não éramos mais adolescentes. Não estávamos mais morando na nossa aldeia sagrada. Veio a notícia, fria e inevitável: a jaqueira precisaria ser sacrificada. Uma tristeza se formou em nossos corações. Aquele lugar tão nosso, que guardava tantas memórias, seria arrancado sem dó. Não estávamos presentes no dia de sua derrubada. Não foi possível dar o último adeus. As máquinas chegaram, brutais, e cada golpe no tronco da jaqueira parecia um golpe em nossos corações. O barulho da motosserra ecoava como um lamento, um adeus forçado àquele pedaço tão importante da nossa história.
Com certeza foi uma cena triste. Ver nossa companheira tombar, galho por galho, folha por folha, foi um lembrete cruel de que nem tudo na vida é para sempre. Quem me dera tivesse guardado algumas de suas folhas para recordação. Elas eram verdes, robustas, carregadas da memória daquela sombra frondosa que tanto nos acolheu. Iria guardá-la com carinho, como relíquias de um tempo que não volta mais.
A Avenida Washington Luiz seguiu seu curso, mais movimentada. Mas para nós, a saudade daquela jaqueira nunca se apagou. Ela permanece viva na lembrança, um farol de uma juventude feliz, descompromissada e, acima de tudo, intensamente vivida sob a sombra de uma árvore que foi muito mais que uma árvore. Ela foi o palco da nossa inocência, o refúgio das nossas risadas e o guardião dos nossos segredos. E para sempre será lembrada como a nossa jaqueira da Washington Luiz.
"Quem é que não se lembra da jaqueira
A jaqueira da Washington Luiz
Bela, formosa e querida companheira
Eu tenho saudades dela..."