O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou na terça-feira um ranking formado pelos nomes e sobrenomes de maior frequência no Censo Demográfico 2022, tendo por base a lista de moradores do domicílio em 1º de agosto de 2022, data de referência do último levantamento. Em Presidente Prudente, Maria e José são os nomes que ocupam o topo da lista, enquanto os sobrenomes de destaque são Silva e Santos, mesmo cenário quando considerado o Brasil como um todo.
O sociólogo prudentino Marcos Lupércio Ramos explica que há história por trás dos nomes, daí a sua importância. “Em suas origens históricas, há inúmeros fatores que determinam os nomes e nem sempre é uma escolha, porque pode ter vinculações religiosas ou geográficas, os dois principais determinantes para o surgimento de nomes e sobrenomes”, frisa.
“Primeiro, devemos dar os parabéns ao IBGE pela divulgação dessa pesquisa sobre os principais nomes e sobrenomes usados no Brasil, porque ele trouxe a possibilidade de um interesse maior, por parte da população brasileira, em saber as possíveis origens do nome que cada um utiliza”, considera Marcos.
Marcos conta que o sobrenome “Santos” ou nomes como “Maria”, “Jesus”, “Isaias”, “Isaque”, dentre outros, são nitidamente ligados a fatores religiosos, voluntários ou impostos pelo cristianismo de origem europeia. “No caso específico do sobrenome ‘Santos’, qualquer pesquisa rápida em sites de busca apontaria sua origem notadamente religiosa e com traços preconceituosos. O nome surge a partir da data do ‘Dia de Todos os Santos’, notadamente em 1º de novembro, véspera de Finados. Então, os primeiros ‘Santos’ eram dados às pessoas que nascessem nesse dia”, esclarece.
“O lado preconceituoso está relacionado ao fato de o nome começar a ser utilizado para designar crianças órfãs, ainda na Idade Média, quando não se conseguia identificar os nomes dos pais, ou seja, crianças abandonadas e acolhidas em orfanatos ligados a instituições religiosas católicas do período”, recorda o sociólogo.
Como o sobrenome “Santos” chega no Brasil? “Nesse caso, no processo de colonização, em especial nas regiões de produção de açúcar no Nordeste, o nome veio junto com os principais investidores – na época – na indústria canavieira, os chamados ‘cristãos novos’, ou seja, judeus convertidos ao cristianismo para poderem sobreviver diante da inquisição – principalmente a espanhola – na Europa e nas colônias da América”, relata.
Segundo Marcos, adotar o sobrenome “Santos’ era comum entre os cristãos novos. Com o tempo, a partir da região Nordeste, esse sobrenome foi se espalhando, em especial devido a outro fator, a escravidão. “Aos escravos era comum se dar esse sobrenome, ou ‘Silva’, que tem origem no latim e significa ‘da selva’ ou ‘da floresta’, então, entre os escravos, o sobrenome ‘Silva’ seria mais comum do que ‘Santos’. Mais uma vez, devido ao viés preconceituoso, pois os escravos eram considerados ‘selvagens’”, revela o sociólogo.
Para Marcos, outro dado considerado interessante tem relação com a organização social. Isso se deve ao fato de que, nas sociedades patriarcais, o sobrenome do pai se sobressai em relação ao sobrenome da mãe. “A própria mãe vai adotar o sobrenome do marido no ato do casamento. Durante muito tempo, isso era determinado legalmente. A partir de 1977, com a lei do divórcio, não é mais obrigatório, no entanto, ainda é comum, porque está enraizado na tradição cultural brasileira, ou seja, apesar de todos os movimentos para maior autodeterminação da mulher, esse fator do sobrenome na hora do casamento ainda é preponderante e demonstra como a nossa sociedade é altamente patriarcal”, enfatiza.
Ainda, para o sociólogo, é interessante notar como os nomes, hodiernamente, além de terem conteúdo fortemente religioso, como o uso de nomes de personagens bíblicos, também carregam o destaque dado aos “famosos”. “Talvez, na falta de criatividade ou simplesmente pela admiração que os pais possuem em relação a algum ‘famoso’, acabam utilizando esses nomes no registro de seus filhos. Nesse caso, o nome de ‘Neymar’ é um que se destacam”, comenta.
“Enfim, a história dos nomes e dos sobrenomes – saber suas origens – nos remete à história da própria humanidade e como se estabelecem as relações de poder – político, religioso e social – na sociedade e como isso pode se perpetuar no tempo e no espaço. Vale a pena, cada um, buscar as origens de seu nome e sobrenome, se não pela curiosidade, pela relevância histórica que pode estar nessas origens”, recomenda o sociólogo.
Conforme o IBGE, as informações disponibilizadas foram organizadas por sexo e período de nascimento, para todo o território brasileiro, constituindo um ranking formado pelos nomes e sobrenomes de maior frequência no Censo Demográfico 2022.
Desse conjunto, alguns nomes sobressaem como preferidos pelos pais em alguns períodos, inspirados na literatura, na moda, ou inventados, enquanto outros se tornam menos populares. “Pode-se notar, no entanto, a perenidade de escolha de nomes bíblicos, possível reflexo da religiosidade da população brasileira”, avalia o instituto.
Para a elaboração da lista, foram registrados, em dois campos distintos, o nome e o sobrenome completo de todos os moradores do domicílio informados pelo entrevistado na data de referência. Foi solicitado que o recenseador registrasse o primeiro nome ou o nome composto do morador no campo “nome”. No campo “sobrenome”, solicitou-se que fossem registrados todos os demais sobrenomes do morador, dando preferência ao registro do nome completo e, caso não fosse possível, somente o último sobrenome.
“Ressalta-se que, para fins de divulgação, do campo ‘nome’ considerou-se apenas o primeiro nome informado e, para o campo ‘sobrenome’, foi feita uma frequência dos sobrenomes, não importando a ordem em que foram registrados”, aponta o IBGE.
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Nomes e sobrenomes mais recorrentes em Prudente |
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NOME |
PERCENTUAL |
FREQUÊNCIA |
|
|
1º |
Maria |
5,59% |
12.622 |
|
2º |
José |
2,14% |
4.823 |
|
3º |
Ana |
1,93% |
4.366 |
|
4º |
João |
1,75% |
3.960 |
|
5º |
Antonio |
0,91% |
2.053 |
|
6º |
Pedro |
0,89% |
2.019 |
|
7º |
Gabriel |
0,81% |
1.830 |
|
8º |
Luiz |
0,77% |
1.737 |
|
9º |
Lucas |
0,76% |
1.724 |
|
10º |
Paulo |
0,74% |
1.666 |
|
SOBRENOME |
PERCENTUAL |
FREQUÊNCIA |
|
|
1º |
Silva |
14,00% |
31.593 |
|
2º |
Santos |
8,73% |
19.707 |
|
3º |
Oliveira |
6,12% |
13.802 |
|
4º |
Souza |
5,07% |
11.452 |
|
5º |
Pereira |
3,13% |
7.060 |
|
6º |
Ferreira |
2,75% |
6.199 |
|
7º |
Rodrigues |
2,62% |
5.906 |
|
8º |
Alves |
2,59% |
5.834 |
|
9º |
Lima |
2,53% |
5.709 |
|
10º |
Costa |
1,52% |
3.436 |