Ridículo

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 07/03/2023
Horário 05:30

Em 2021 apareceu um termo nas redes sociais que rotulava de cafona, patético e ultrapassado todos aqueles que gostavam de produtos como café, calças skinny, escreviam “sextou” nos stories e achavam normal trabalhar 40 horas na semana e pagar boletos. O termo em questão é o “cringe”, sinônimo de vergonha alheia, mas obviamente também de vida adulta. 
Esta palavra esquisita, “cringe”, foi criada pela Geração Z, nascidos em 1996 e 2010, em ataque nada sutil aos Millenials, pessoas nascidas entre as décadas de 1980 e 1990. Aquele velho lance de achar ruim tudo que vem da geração anterior. Normal. 
A questão é que estes dias me deparei com uma variação do “Cringe”: o “Cringecore”. E lá foi eu procurar saber mais sobre esta tendência que depois me deixou bem assustado tamanha insanidade que a cerca. 
“Cringecore” é um louvor ao que é esquisito. Nada mais, nada menos. E o que assusta é que a geração Z não só adora isso, como as marcas também já sacaram o potencial de mercado e começaram a atacar forte, como a Balenciaga que lançou recentemente um tênis todo sujo e rasgado como item de moda e vestiu Kim Kardashian com um vestido de cauda longa e máscara pretos, cobrindo totalmente seu rosto e corpo. 
Em resumo, é o ridículo que dá audiência e, em realidade, é quase que o fim dos tempos. Se Umberto Eco aqui ainda estivesse, além de dizer que a internet deu voz para uma legião de imbecis, iria ressaltar que as redes sociais são o berço dos idiotas de plantão, que riem de filtros com caretas e pegadinhas de qualidade muito duvidosa, além de expor a eles próprios ao máximo com dancinhas inacreditáveis.
A lógica do “Cringecore” é que se é esquisito, dará comentários, e estes comentários farão a audiência crescer. Um fala para o outro, que comenta com um e assim por diante. E isso é suficiente para grandes investimentos das marcas atrás de públicos cada vez mais amplos e diversificados.
É, na vida online parece não haver limite, assim como na vida física o preconceito, o racismo e a exploração continuam fortes em seus propósitos. 
Ou não é ridículo também que em pleno século 21 vinícolas do porte da Salton, Cooperativa Garibaldi e Cooperativa Aurora fossem se enfiar em um caso de escravidão contemporânea, como foi denunciado fortemente na imprensa dias atrás. Se bem que vou corrigir aqui: estas empresas não são ridículas. No mínimo são cúmplices de um dos crimes mas bárbaros contra a humanidade, que é a escravidão. 
E a tomar como ponto de partida as respostas públicas idiotas que ofereceram, de que a culpa era da empresa que terceirizou o trabalho, além das políticas assistencialistas, aqui não teremos nenhuma ousadia ou joguinho para conquistar mais públicos. Temos sim um sistema que precisa ser revisto e um crime que precisa ser investigado e punido exemplarmente para que nunca mais aconteça.     
 

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