Rosa de "Escrava Isaura"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 29/08/2023
Horário 06:50

Léa Garcia nos deixou recentemente aos 90 anos prestes a ser homenageada com o Troféu Oscarito no Festival de Cinema de Gramado. Um prêmio ao seu talento, garra e pioneirismo na interpretação no teatro, cinema e TV onde fez seu caminho como verdadeira bandeirante abrindo caminho na raça em épocas de duro preconceito. Foi uma das primeiras protagonistas negras do cinema no clássico Orfeu Negro de 1959 quando foi indicada para o prêmio de melhor Atriz do Festival de Cannes. Na TV sua participação em “Escrava Isaura”, 1976, foi seu melhor momento, como a escrava invejosa Rosa, a antagonista da mocinha vivida por Lucélia Santos. Uma personagem densa cheia de nuances que não era uma malvada pura e simples, mas que mesclava facetas de ressentimento, revolta contra o favoritismo da escrava branca, usando das armas que dispunha para se dar bem. A sua cena final oferecendo ponche com veneno para a inimiga e bebendo a xícara errada após elas terem sido embaralhadas por Carmem (Ângela Leal) é marcante. 
    
“Meu tempo é sempre”

“Não é do meu tempo!”. “Na minha época, não era assim!”. “Essa música é do seu tempo!”. Não tem nada mais etarista (e autoetarista) do que referenciar uma pessoa com determinada época. Claro, que na grande parte das vezes, a intenção é boa e nostálgica: falamos do tempo em que éramos jovens, ou que o mundo refletia os comportamentos e ideias que acreditávamos ser universais. Porém, a reboque vem a ideia de que esse tempo já passou, e que a pessoa ficou nele, ultrapassada e fora do contexto atual. Quanto mais idade a pessoa tem, mais “tempos” ela viveu. Se ela foi jovem nos anos 60, o tempo dela foram os anos 60, os 70, os 80 e todos os demais, que pessoas mais jovens foram vivendo em sequência. Não dá para vincular uma pessoa a uma década passada, perdida, como se ela fosse dona de uma época e destronada das outras. Quem tem RG antigo tem mais ontens que os demais, mas o hoje é de todo mundo, não é de quem é jovem. Portanto, é importante termos o lema de que “meu tempo é sempre”. Foi ontem, é hoje e será amanhã. E tomara que tenha muitos amanhãs. Todos meus, seus, nossos. Porque o tempo não tem dono, ou se tem, esse dono é múltiplo, global e irrestrito.  Quem é madurão teve a honra de experimentar as chamadas à distância por telefonista, as fichas dos orelhões, os primeiros celulares tijolões até os smartphones atuais. Tiveram provas impressas nos mimeógrafos, fizeram curso de datilografia, escreveram cartas, usaram fax e hoje mandam mensagens por WhatsApp. Esperavam as músicas serem tocadas nas rádios para gravarem em gravadores portáteis, compraram vinil e CDS e hoje ouvem músicas em dispositivos digitais. Faziam filas nos cinemas para ver os artistas, alugaram fitas VHS nos finais de semana, compraram DVDS e hoje assinam plataformas de streaming. Liam fotonovelas, compravam gibis e revistas, e hoje leem as fofocas pelas internet e assistem desenhos nos celulares. O mundo evolui, as pessoas também. Cultue o passado, mas não permaneça nele. 

Dica da Semana

Filmes 

“Uma Longa Jornada”:
(The Longest Yard). EUA. 2015. Direção: George Tillmann Jr. Com Scott Eastwood e Alan Alda. Um senhor de 91 anos de saúde debilitada sofre um acidente de carro e é deixado num lugar isolado, onde luta para recuperar sua consciência, ao mesmo tempo em que passa a ter visões da falecida esposa, e sua história de cruza com a de um jovem casal. 

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