Sem beijo

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 19/07/2020
Horário 05:44

O termo bullying tem a sua origem na palavra inglesa “bully”, e significa intimidar ou amedrontar. Esse termo tornou-se comum no mundo das redes sociais, onde circulam muitas estórias dramáticas. Isso me fez lembrar quando eu tinha 11 anos, numa época que situações de pressão psicológica não provocavam tanto sofrimento. 
Lembro-me do meu primeiro namoro, fruto de intensa campanha da turma... A princípio eu não dei muita atenção quando a menina me olhava com um sorriso nos olhos; amigos me cutucavam com ironia, outros faziam insinuações. Estava claro, ela estava interessada e eu fingia desentendimento. Mas chegou a um pé a situação que, ou eu tomava posição positiva, ou a turma cairia em cima de mim, eu seria motivo de troça. Surgiam brincadeiras que levantavam gargalhadas gostosas da 5ª série “B” e alterava o tom normal da minha pele. 
Quando o caso ganhou ainda mais força com a publicação de rumores na seção de fofocas do jornalzinho da escola, a campanha voltou com força total. Os meninos me convidaram para ir ao cinema. As meninas fizeram o mesmo com ela e, assim, ocorreu um encontro “casual”. No domingo, eu pedi à minha mãe para sair, rezando para ela não deixar. Este não foi o obstáculo. No cinema, depois de uns cutucões, eu pedi a menina em namoro. Ela se fazendo de desentendida, falou que ia pensar e depois daria a resposta. Na manhã seguinte, a confirmação veio no recreio. Depois do clima de festa, cada um foi voltando para as suas atividades normais. Havia ainda os que ficavam observando e comentavam: - Que bonitinho!
Até hoje eu não me lembro de uma situação tão constrangedora na minha vida. Eu não tinha o que conversar! Falávamos da escola, das provas, num espicha-encolhe nauseante. No segundo dia, eu apostei com meu amigo que beijaria a namorada, coisa que eu não tinha coragem. Lutando contra a timidez, eu queria dizer para a ela, mas não saía. De longe, meu amigo torcia para não perder e assim um ficava olhando para o outro sem nada dizer. De fato, eu pensava nos colegas que tinham ido jogar bola... Enfim, esse primeiro namoro não resistiu ao primeiro conflito... Minha namorada, constatando a minha falta de foco, propôs uma conversa séria, dizendo que não aguentava mais.  Eu me lembro que falei bonito, que tudo tem um fim. Depois de tudo acertado, gritei aos colegas: - Sou o goleiro!
 

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