Sete crianças sofrem com falta de medicamento

De alto custo, remédio é utilizado para o tratamento da irritabilidade; ontem, ato alertou sobre inclusão social de autistas

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 04/04/2017
Horário 09:07
 

O dia amanheceu azul, ontem, em Presidente Prudente. Representantes, pais e alunos da Lumen et Fides, escola que presta atendimento especializado a crianças com TEA (transtorno do espectro autista), promoveram a 3ª Caminhada Azul, realizada anualmente pela entidade em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, lembrado no domingo. Além de lutar por mais visibilidade para este público, mães presentes também defenderam a efetivação dos direitos para seus filhos. Isso porque a instituição conta, atualmente, com sete crianças sem acesso a um medicamento utilizado para o tratamento da irritabilidade, o Aristab (aripiprazol). Por sua vez, o DRS-11 (Departamento Regional de Saúde de Presidente Prudente) informa que a previsão é de normalização do abastecimento na próxima semana.

Jornal O Imparcial Caminhada Azul, em alusão ao Dia do Autismo, ocorreu na manhã de ontem, no Parque do Povo

De Santo Anastácio, Ticiana Teodoro de Souza é uma das mães que estão vendo suas crianças sofrerem com a falta da medicação. Ela enfatiza que seu filho, Arthur, 8 anos, deixou de recebê-la em janeiro e, desde então, tem passado por mudanças de comportamento. Enquanto o repasse não é retomado, a mãe conta com a ajuda de amigos e familiares, que se juntaram para fazer a aquisição do remédio. "Sozinha eu não dou conta, pois cada caixinha custa, em média, R$ 600", pondera.

A coordenadora pedagógica da Lumen, Ana Paula Bianque Soares, afirma que a obtenção do remédio foi resultado de uma ação coletiva ganha na Justiça, no entanto, o fornecimento permanece interrompido há alguns meses e, por ora, as famílias encontram-se de mãos atadas. "A demora no repasse atrasa a readaptação do organismo e tende a piorar os sintomas. Alguns pais fazem a substituição do medicamento, porém, sem o mesmo efeito", salienta.

Procurado, o DRS-11 (Departamento Regional de Saúde de Presidente Prudente) informou que o desabastecimento temporário do medicamento Aristab (15 mg) foi motivado pelo atraso na entrega por parte da empresa fornecedora, que, inclusive, está sujeita a multa por descumprimento de prazo. "O DRS está cobrando para que a empresa responsável entregue o medicamento com urgência e tomará as medidas cabíveis. A previsão é de normalização do abastecimento na próxima semana". informa.

 

Abnegação

"Quando descobri que meu filho tinha autismo foi um baque, mas com toda a ajuda que recebi, hoje me sinto privilegiada por tê-lo, pois ele é especial. É meu anjo azul. É quem me dá força", declara a dona de casa Maria Cristina Graciano da Silva, 43 anos, que abdicou da sua vida profissional para se dedicar inteiramente ao caçula, Guilherme Henrique Magalhães, 13 anos, portador do TEA. Assim como ela, outros pais vestiram a camisa e levaram seus pequenos para a Caminhada Azul. Iniciado na pista de skate do Parque do Povo, o trajeto terminou em um ponto próximo ao posto policial da Avenida 14 de Setembro, com a soltura de balões azuis, cor que simboliza o autismo por ser mais comum em meninos.

A dona de casa Glória Márcia de Oliveira, 36 anos, mãe do Gabriel, acredita que ações como essa são importantes para promover o conhecimento sobre a síndrome, ainda pouco discutida pela sociedade. "Como muitos ainda não sabem o que é o autismo, acabam se afastando ou ignorando a criança portadora do transtorno. Quando ocorre a socialização, as pessoas já passam a entender e ver nossos filhos com um novo olhar. Por isso, a informação é fundamental", avalia. Ela é muito grata ao trabalho que a Lumen et Fides desempenha em função das crianças de Presidente Prudente e região. "Desde que o Gabriel começou a ser atendido na entidade, nossas vidas mudaram bastante. Minha relação com ele se tornou mais simples. Antes, eu nem sabia o que era autismo. Hoje, eu entendo o que é e como superar as adversidades", aponta.

Para Maria Cristina, a propagação de informações sobre o TEA contribui para a ruptura de preconceitos, pois a população tem a oportunidade de conhecer como o autista se comporta e como lidar com ele de uma maneira mais aberta, já que este público ainda é muito excluído e visto até com certa repulsa. No seu caso, ela conta que o diagnóstico do filho se deu tardiamente e, com o propósito de evitar que mais tempo fosse desperdiçado, deixou Rancharia e se mudou para Prudente, a fim de oferecer ao filho o melhor atendimento. "Foi tudo de bom, pois a Lumen estende o seu amparo para as mães. Nós convivemos, trocamos experiências, saímos para conversar. Isso nos permite perceber que não estamos sozinhas", expõe. Sobre as crianças com TEA, Maria Cristina aponta que são muito carinhosas e vivem no mundo delas. "Parece que não estão vendo nada, mas são observadores e inteligentes", pontua.

 
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