Shokonsai: Cemitério Japonês de Álvares Machado guarda memórias de sacrifícios e resistência

Único cemitério japonês fora do Japão, local recebe de 11 a 13 de julho a 105ª edição do tradicional evento que homenageia os pioneiros da imigração

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 10/07/2025
Horário 06:43
Foto: Sinomar Calmona
Cemitério Japonês de Álvares Machado, iluminado durante a cerimônia das velas do Shokonsai
Cemitério Japonês de Álvares Machado, iluminado durante a cerimônia das velas do Shokonsai

Em 1919, sob um sol inclemente, um grupo de imigrantes japoneses carregava o pequeno corpo de Massae Watanabe, de apenas 2 anos, até um terreno de cinco alqueires em Álvares Machado. Era o primeiro sepultamento no que se tornaria o único cemitério japonês fora do Japão – um marco de resistência cultural em solo brasileiro.

A menina foi vítima de um surto de febre amarela que assolou a colônia, recém-chegada à Gleba Brejão, em 1917. Com o cemitério mais próximo em Presidente Prudente (15 quilômetros de distância), os corpos eram transportados a pé, até que a tragédia tornou a jornada insustentável. Naoe Ogassawara, líder da comunidade, conseguiu autorização para criar o cemitério "Shokonsai", onde hoje repousam 784 pioneiros – 68% deles, crianças menores de 5 anos.

Caminhar entre os jazigos é revisitar um capítulo doloroso da imigração:

  • 48% dos túmulos são de bebês com menos de 1 ano
  • Mães subalimentadas trabalhavam na lavoura enquanto gestavam
  • Inscrições em ideogramas narram histórias sem palavras

"Minha avó perdeu três filhos aqui antes de completarem 1 ano", conta Haruo Miyazaki, 72 anos, neto de imigrantes. "Este cemitério é nosso altar de memórias".

Em 1942, um decreto de Getúlio Vargas durante a Segunda Guerra proibiu novos enterros. O último túmulo data de 1943 – uma marca silenciosa da resistência cultural.

Num canto discreto, um túmulo se destaca: "Manoel". O único brasileiro no local, sua história ecoa como lenda: Em uma noite de ano novo, ele viu três japoneses sendo atacados por um homem armado. Interveio e morreu defendendo-os. Por gratidão, a colônia o enterrou entre seus mortos "Até hoje deixamos flores em seu túmulo", revela um diretor da Aceam, que promove o Shokonsai.

Shokonsai 2025: 105 anos de tradição viva

De 11 a 13 de julho, o cemitério receberá: Ritual das Velas: 784 luzes acesas simultaneamente; danças folclóricas no palco tombado (o mesmo de 1920); e leitura de nomes em cerimônia emocionante. "É quando nossos ancestrais voltam para nos visitar", explica Luiz Takashi.

Tombado em 1980, o complexo inclui: a primeira escola japonesa da região (construída em madeira), palco de taipa onde se apresentava o teatro kabuki e árvores centenárias plantadas pelos imigrantes.

SERVIÇO
Como visitar:

Rodovia SP-270, Km 563, Álvares Machado

 

 

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