Síndrome do pânico

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 02/07/2023
Horário 08:08

Era os anos 90. O filme “Ghost” estava no auge. Sempre fui fã da atriz Demi Moore. Estava sentado na confortável poltrona no cinema do Shopping Iguatemi, ansioso para assistir esse filme e ver a maravilhosa Demi Moore. O enredo do filme era um jovem executivo chamado Sam Wheat, interpretado pelo ator Patrick Swayze (in memoriam), apaixonado por sua namorada, Molly. Ele acaba morto em um assalto, mas seu espírito não vai para o outro plano e descobre que Molly também corre perigo. Para salvá-la, Sam pede ajuda a uma médium vivida pela excelente atriz, Whoopi Goldberg, que consegue ouvi-lo. 
O filme arrecadou mais de 500 milhões de dólares e Demi Moore ganhou o Oscar de melhor atriz. Eu, como um fanático fã de Demi Moore, me senti incorporado no Sam Wheat sem medo de ser feliz. A ilusão é um suave tempero da vida. Não sei o motivo, comecei a me sentir estranho. Meu coração começou a acelerar igual um carro de Fórmula 1. Um turbilhão de pensamentos enche meu cérebro, calafrios e um suor excessivo me fazem sentir um baita medo. Era como se eu estivesse em alto mar, vendo a barbatana de um grande tubarão branco vindo em minha direção. O que será que está acontecendo comigo? 
Me levantei apavorado em plena cena romântica de amor entre os personagens. Grudei meu corpo trêmulo na parede do cinema feito uma aranha. Ninguém entendeu nada. Será que esse cara está possuído? Fui andando a passos de tartaruga até chegar ao carro. Não sei como consegui chegar à casa do meu primo Sander, onde estava hospedado. Me lembrei do querido amigo Dr. José Roberto Marcondes, que tinha me falado de uma estranha e desconfortável sensação emocional: Magrão eu acordo de madrugada e começo a andar na rua de noite com medo de morrer suando frio. Liguei pra ele: Zé estou sentindo aquelas paradas que você me falou. Oh Loco Magrão, até tu. Fiquei mais assustado ainda. Que merda é essa Zé? Dizem que é síndrome do pânico. Que isso? Toma um Frontal, recomendou o amigo Dr.
Eu mais apavorado que um soldado americano no Delta do Mekong, pedi socorro ao meu primo. Queria tomar qualquer coisa para me livrar desse desconforto emocional. Na pressa, que todos sabemos que é a grande inimiga da perfeição, acabei tomando um Dorflex. Pqp, fiquei com a musculatura relaxada com medo de morrer e não conseguia me mexer. Que noite terrível. Cheguei em Prudente e recorri ao mestre da psicanálise, o Dr. Paulo Pinto. Serei sempre grato a esse Freud prudentino. Comecei a fazer terapia usando o método psicodrama, que é uma abordagem de terapia que usa o teatro para diagnosticar e tratar questões de natureza psíquica. O fundador dessa técnica foi o psiquiatra romeno, Jacob Moreno. Um outro querido amigo, Tiago Marcondes, entrou nesse time também. 
Nas seções de terapia, o Dr. Paulo me mostrou que a causa desse desconforto emocional era minha autocrítica. Achava que era a falta do vil metal. Com um boa pitada de humor, apelidei a minha autocritica de "Antônio Carlos Fortão". Ele me chamava de fracassado e era duro aguentar suas pesadas criticas. O Dr. Paulo me orientou a voltar a ser o que sempre fui, estava totalmente fora dos meus verdadeiros sentimentos e valores. Fui entendendo a minha dinâmica psicológica e minha história de vida através da terapia. Com isso, o conhecimento me trouxe a compreensão e nunca mais senti pânico. Os traumas, as decepções foram desvendados. Aprendemos que são vários níveis de autocrítica. Ainda bem que o meu era o Antônio Carlos Fortão. Como assim? 
Rapaz vocês não ousam conhecer uma autocritica feroz de nome "Július Malditos". Agora o mais letal, o mais sanguinário, o mais cruel das autocríticas é o temido "Hannibal Lecter". Esse não conhece a piedade e muito menos a misericórdia. O Dr. Paulo ria e ainda ri com o nosso bom humor. Nos congressos que ele participava de psiquiatria, ele mencionava a nossa criatividade e bom humor em colocar nomes nos níveis das autocriticas. Assim vencemos a nossa síndrome do pânico. Mas, é sempre mais seguro andar com uma caixinha de Frontal, vai que eles aparecem de novo. Vejam vocês.

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