“Navegar é preciso; viver não é preciso” é um famoso e célebre poema de Fernando Pessoa. Com base nele, inspirei-me a escrever sobre o simbolismo da função paterna e o tema: “Ter pai é preciso, as interdições são fundamentais”. Novas configurações familiares foram surgindo no contexto da pós-modernidade. A figura paterna pode ser representada em diferentes vértices.
Atualmente, casais após o matrimônio optam por adotarem animais de estimação, como cães, gatos e outros. E intitulam-se pais e mães dos animais. Algumas moças, como também rapazes, dispensam o casamento, mas tem o desejo de tornarem-se pais ou mães, decidindo pela adoção. Há os casamentos homoafetivos, onde duas mulheres ou dois homens unem-se até que a morte os separe, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E as admiráveis viúvas que são mães e pais ao mesmo tempo, assim como os viúvos.
Resistência em aceitar a nova realidade e dinâmicas podem retardar o processo de desenvolvimento nos contextos diversos como: família, escola, sociedade, etc. Quaisquer que sejam essas novas configurações, a figura e função paterna são de extremo valor e fundamental. O pai na família configura os limites, as fronteiras, as leis, as normas, realidade e ordem. O casal formado entre duas mulheres ou dois homens terão constituídos, efetivamente, as funções paternas e funções maternas entre eles. O pai configura a existência do terceiro e de que existe o outro, além da fusão entre mamãe e o bebê, fusão essa vital para o bebê recém-nascido.
Observamos que cada um, dentro da família, tem a sua função. Há o momento necessário da des-fusão. Já é difícil deixar o útero, imaginam grudar na mãe para sempre. Precisamos todos, de um senso de realidade, necessitamos de interdições e entender que o respeito e limites são essenciais.
Em Gênesis, no antigo testamento, Deus criou o céu e a terra. E Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. No jardim do Éden, Deus criou o homem e a mulher. Deus é pai, Senhor absoluto e é preciso obediência. A onipotência, vaidade e autossuficiência do homem o levou ao banimento do jardim do Éden, em seguida houve o dilúvio, queda da Torre de Babel e confusão de línguas.
O ser humano é um eterno insatisfeito e não tolera frustração. Imaginem que o homem planejou construir a Torre de Babel da altura do céu, para observar o Pai Celeste. Não podemos tudo. Somos seres mortais. O simbolismo e o significado psíquico da função paterna configuram a importância da hierarquia para a contenção da irreverência humana. E todo esse processo civilizatório inicia-se com a família, desde a tenra infância. Parabéns e feliz Dia dos Pais.