Uma experiência insubstituível

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 26/01/2025
Horário 05:00

Sou de uma família que praticamente não tinha livros em casa, como a esmagadora maioria das famílias brasileiras. Para aqueles que acham mais importante o engajamento nas redes sociais ou ter em mãos a última versão de um celular, por que falar disso? Afinal o mundo digital tornará irrelevante o livro, certo? Errado. 
É verdade que os chamados e-books chegaram para ficar, ocupando um lugar definitivo no mundo da informação, como foi a história do cinema, da televisão e de outras mídias. Mas eles bateram o teto de 40% das vendas nos grandes mercados mundiais. E nas feiras de livros, os lançamentos continuam chamando a atenção. Por que será? 
Bem, os livros físicos nunca dão pau, não é mesmo? Quem nunca viveu a péssima experiência de ser interrompido na leitura quando acaba a luz e seu e-reader, literalmente, morre por falta de bateria. Bom mesmo é a experiência insubstituível de leitura dos livros físicos. Tem a experiência tátil de folhear as páginas do livro. Apreciar a arte do projeto gráfico. O formato do livro. A granulometria e textura do papel. O acabamento da capa e dos cadernos que compõem as páginas. Temos também a definição da tipografia e hierarquia dos títulos e subtítulos. Ah, que delícia ser o primeiro leitor a abrir um livro que chegou fresquinho da livraria. E que curiosidade desperta aquele livro adquirido no sebo, então? Quem foi seu primeiro dono? O que ele pensou quando grifou aquela frase lá no meio dos capítulos? Sim, ler livros físicos é um processo muito rico. É um processo mais lento, é verdade, mas que dá muitas asas à imaginação. 
Ao longo da minha vida, fui formando devagarinho a minha biblioteca pessoal. Os primeiros livros ganhei de presente na adolescência, quando despertei para a literatura brasileira. Depois vieram os anos da graduação e não parei mais. Fui colecionando os clássicos da geografia e das leituras especializadas. O foco central é na geografia da saúde: Cliff, Haggett, Howe, Gatrell, Gesler, Howe, Kearnes e um número crescente de obras nacionais. 
Gosto muito de passar o dia no meu escritório, cercado pelos livros. Será preciso organizar melhor a coleção (já passam de 3 mil livros!). Estou cercado do mundo de palavras. Aquelas que posso cheirar e tocar o que se narra. Revelar esqueletos, recuperar palavras roubadas. Como é bom sentir-se deslizando pelas palavras... Isso não quer dizer que eu tenha de usar termos rebuscados. Princípio básico: simplicidade. Deixar o dito explicar-se por si mesmo.
 

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