Dezembro sempre chega com esse gosto de encerramento. É o fim de um ciclo, o balanço do que ficou para trás e, ao mesmo tempo, a esperança tímida de que o próximo ano possa ser diferente. Não é coincidência que seja justamente agora, neste período de expectativas e de cansaços acumulados, que uma das pautas mais sentidas pela classe trabalhadora finalmente ganhe corpo no Congresso Nacional.
No dia 10 de dezembro de 2025, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou, como matéria extra-pauta, a PEC que extingue a escala 6×1 e reduz progressivamente a jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, sem redução salarial. A matéria agora segue para o plenário e, se aprovada, iniciará uma transição de cinco anos até que o limite de 36 horas torne-se regra nacional.
É simbólico e ao mesmo tempo muito concreto que esse avanço aconteça justamente no momento em que o país inteiro debate o esgotamento, a ansiedade e a crescente sensação de que trabalhar seis dias para descansar um já não cabe na vida de ninguém. A própria justificativa do relator na CCJ destaca que a escala 6×1 está associada a mais acidentes, queda de produtividade, piora da saúde mental e física e um desgaste que se acumula como poeira fina no cotidiano de milhões.
Nas redes sociais, o tema explodiu nos últimos meses. Não foi por acaso. Foi resultado de uma pressão orgânica, difusa, cheia de relatos de gente exausta tentando continuar vivendo. Dessa mobilização surgiu o movimento “Vida Além do Trabalho”, que hoje já aparece como um marco de uma geração inteira que se recusa a normalizar jornadas abusivas e a ausência de tempo para existir — para ver os filhos, para estudar, para amar, para descansar, para simplesmente estar.
A aprovação na CCJ não resolve tudo. Ainda há votações, articulações e resistências pela frente, especialmente na Câmara, onde parte dos setores econômicos tenta reduzir o alcance da mudança. Mas há algo inegável acontecendo aqui: o Brasil está amadurecendo o debate sobre o direito ao tempo, e isso não é pequeno.
A redução da jornada não é só uma disputa trabalhista; é uma disputa civilizatória. É sobre reconhecer que gente não é máquina, que produtividade não se mede apenas pelo número de horas entregues, e que o desenvolvimento de um país passa também pela saúde, pela cultura, pela educação e pelo bem-estar do seu povo.
Se dezembro é mês de balanço, talvez este seja o momento de olhar para 2025 e reconhecer que, apesar dos retrocessos e das dores, algo importante se moveu. Uma PEC que parecia distante, quase utópica, entrou na pauta e avançou. A política, tão desacreditada, respondeu a um clamor da luta de classe. E a pauta do trabalho voltou a se conectar com a vida real.
Que 2026 nos encontre com coragem para continuar essa luta.