Sabe aquele “gostinho ácido” do refrigerante e da cerveja que tantos apreciam? O agente que acidifica essas bebidas é o gás carbônico (CO2) que reage com a água e forma o ácido carbônico. Sabe por que o CO2 é inserido nessas bebidas? Para estimular os quimioreceptores do gosto azedo das papilas gustativas da língua. As bebidas ficam mais palatáveis (saborosas) com as combinações de doce + ácido (refri) e amargo + ácido (cerva), provocam a sensação de prazer e a vontade de beber mais e sempre.
VÍCIO
Certamente o número de viciados em alimentos e bebidas super-palataveis é muito maior do que os viciados em cigarro, álcool e outras drogas. E isso não ocorre por acaso. Os alimentos e bebidas chamados de ultraprocessados são concebidos e produzidos para estimular ao máximo seus quimioreceptores (também para salgado e umami), agradar seu paladar, induzir a produção de neurotransmissores do prazer e provocar o desejo de “mais”. Exatamente aquela sensação declarada no slogam: “é impossível comer um só”. Em alguns casos “um pacote só”.
SUBSTÂNCIA VICIANTE
As quatro características de uma substância viciante são: [1] causa uso em grande quantidade ou compulsivo, [2] causa efeitos psicoativos (ex. melhora o humor), [3] reforça o comportamento de buscar a substância, [4] dispara fortes impulsos ou desejos pela substância. O consumo da substância estimula a produção de dopamina, neurotransmissor da recompensa e prazer, que atua em regiões como amígdala, ínsula e áreas do cortex. Na maioria das vezes essa sensação sobrepuja a razão de limitar o consumo do alimento ou bebida, desnecessários e ricos em calorias.
ATIVAÇÃO NEURAL
Estudo (JAMA Psychiatry, 2011) com análise de ressonância magnética funcional demonstrou que as drogas e os “alimentos viciantes” disparam o mesmo padrão de ativação neural e liberação da dopamina, indicando sensações semelhantes de recompensa e prazer. O resultado é o comportamento alimentar em “padrão de vício” e dependência. Em alguns casos a resposta dopaminérgia é a atenuada e a recompensa subjetiva é mais fraca, fazendo a pessoa consumir quantidades ainda maiores do alimento para buscar a sensação.
SUPERÁVIT CALÓRICO
Alimentos e bebidas super-palataveis parecem também desregular regiões inibitórias e outras do sistema nervoso que causam a saciedade. O consumo dos produtos fica desenfreado e cessa apenas quando o pacote ou estoque chega ao fim. O resultado é o consumo de calorias em excesso.
CONSUMO AUMENTADO
Obviamente, a indústria está sempre buscando mais consumidores e que consumam cada mais. Não por acaso, os alimentos super-palataveis são também baratos, acessíveis e bastante vendidos. A palatabilidade é reforçada por grandes proporções de açucar, sal, gordura (trans), flavorizantes (sabores variados), aromatizantes, acidulantes, edulcorantes (adoçantes) e glutamato monosódico (ajinomoto, sabor umami). Portanto, se você estiver comprando fardos de refrigerante/cerveja, caixas de snaks (ex. costelinha com limão) e doces, pense em se controlar para não se tornar um viciado em ultraprocessados.
Não por acaso, os alimentos super-palataveis são também baratos, acessíveis e bastante vendidos.
Referências
LaFata EM, Ashley N. Gearhardt; Ultra-processed food addiction: an epidemic? Psychother Psychosom. 2022; 91(6): 363-372. https://doi.org/10.1159/000527322
Gearhardt AN, DiFeliceantonio AG. Highly processed foods can be considered addictive substances based on established scientific criteria. Addiction. 2023; 118(4): 589-598. https://doi.org/10.1111/add.16065
Gearhardt AN, Yokum S, Orr PT, Stice E, Corbin WR, Brownell KD. Neural correlates of food addiction. Arch Gen Psychiatry. 2011; 68(8): 808-816. doi: http://dx.doi.org/10.1001/archgenpsychiatry.2011.32