8 usinas e 15 mil funcionários param atividades

Produtores rurais também sentem o impacto da greve dos caminhoneiros e precisam, em alguns casos, descartar o que foi produzido

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 30/05/2018
Horário 07:24

A região de Presidente Prudente, como um reflexo das manifestações dos caminhoneiros, conta hoje com a paralisação de pelo menos oito usinas do setor sucroalcooleiro, por falta, dentre outros fatores, do abastecimento do maquinário. A informação é do Sindetanol (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Bicombustíveis de Presidente Prudente e Região), que estima ainda um número que pode chegar a 15 mil trabalhadores que deixaram de atuar na produção devido ao ato. Produtores rurais da região também enfrentam os impactos das paralisações e precisam, em alguns casos, descartar o que foi produzido.

Segundo o presidente do Sindetanol, Milton Ribeiro Sobral, as oito usinas recebem a representação do sindicato e já estão 100% com as atividades paradas desde domingo, pelo menos, devido o desabastecimento de combustível. “Estamos em período de safra, não há outro motivo que não seja a greve”, lembra. Ainda segundo Milton, a greve é entendida pelo sindicato, já que o governo, segundo ele, deve repensar a política de preços dos combustíveis.

Essa, no entanto, já era uma medida esperada e que havia sido noticiada por este diário, visto que, conforme a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), até ontem, todas as 150 usinas e fornecedores de cana-de-açúcar do Estado deveriam paralisar as atividades em razão da greve iniciada em 21 de maio. “Falta diesel para abastecer máquinas e equipamentos, peças, alimentos para refeitório, entre outros”.

 

Reflexos regionais

Conforme o diretor da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) de Presidente Prudente, Marco Aurélio Fernandes, que representa 21 municípios, a agricultura, assim como todos os setores, sofre com a falta de abastecimento e paralisação dos caminhoneiros. “Os estoques de ração para as granjas poedeiras de pequeno e médio porte, por exemplo, praticamente acabaram. Se essa situação permanecer, é possível que a região registre a morte desses animais, bem como dos suínos, o que ainda não ocorreu por aqui”, expõe.

Outra situação que preocupa, conforme Marco, é a captação da produção de leite, que não ocorre mais e faz com que muitos produtores tenham que descartar o produto. “A comercialização não ocorre, há prejuízos e, por isso, os preços das mercadorias podem continuar elevados até que tudo se estabeleça”.

Já o diretor técnico da Cati de Presidente Venceslau, Felipe Melhado, que representa 11 municípios, o setor da horticultura também enfrenta problemas, já que as hortaliças não conseguem ser comercializadas e causam, conforme ele, prejuízos ao produtor. “Na nossa região também há a preocupação com a pecuária de leite e o corte de carnes. Estamos muito assustados com essa situação, mas apoiamos, pois estamos todos cansados de tantos impostos”.

Tanto o presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Garcia, quando o presidente do Sindicato Rural, Carlos Roberto Biancardi, afirmam entenderam as reivindicações dos caminhoneiros, por serem também de interesse dos produtores, mas salientam a necessidade de um ato com responsabilidade neste momento. “As paralisações atingiram um patamar que provoca uma situação gravíssima no setor produtivo e a culpa dos altos valores não é dos produtores”, informa Luiz.

 

Prejuízo ao produtor

Sérgio Mendonça trabalha com a produção de leite há 11 anos em Presidente Bernardes. Por dia, 150 litros são ordenhados e distribuídos aos clientes, mas, desde o início da greve, o cenário encontrado na propriedade é o de armazenamento do produto e descarte pela falta de comercialização. “Não sei o que fazer, meu prejuízo diário passa dos R$ 200 e já tive que descartar 300 litros de leite, por perder a qualidade”. Sérgio lembra que não pode paralisar a ordenha e afirma que hoje, possivelmente, outros 300 litros de leite serão jogados fora. “Para não desperdiçar tudo, temos feito queijo para o consumo próprio e meu estoque de ração segue apenas para essa semana”, finaliza.

Já o produtor rural de Prudente, Benedito Santos, trabalha há 13 anos com a produção de leite, produz 90 litros ao dia, mas afirma ainda não ter sido prejudicado com o movimento. “Ainda bem que meus clientes estão conseguindo se deslocar aqui na cidade e levar o material. Tenho um bom estoque de ração e isso pode ter me ajudado”.

Em Regente Feijó, conforme o prefeito Marcos Rocha (PSDB), o produtor responsável pela Granja Acampamento precisou, durante segunda-feira e ontem, distribuir aproximadamente 12 mil aves, já que a empresa “sofre” com a crise dos caminhoneiros. “Ele está com sérios problemas na alimentação das aves e, por isso, com meu consentimento, entregou as aves nos bairros Por do Sol, Vila Esperança, Jardim Tropical e Vila Xavier”, afirma o chefe do Executivo.

Publicidade

Veja também