É a angústia algo que posso dar conta?

Freud em um texto chamado “Inibição, sintoma e angústia” de 1915, descreve como aparece essa angústia avassaladora que não sabemos o que é e de onde vem, para onde vai e de que forma aparece. Sabemos que chega e não bate na porta, tampouco pede licença! Se vivo for, angustiado será. Angústia é a matriz da subjetividade humana. Angústia assusta, porque tem a ver com o desconhecido. Mas, um desconhecido conhecido. E qual seria esse desconhecido conhecido? Seria somente adulto que teria angústia? E a criança sofre de angústia? 
Em crianças, as primeiras fobias são aquelas provocadas pela escuridão e pela solidão. “Medo da escuridão persiste por toda a vida; ambas estão envolvidas quando a criança sente ausência de alguma pessoa amada, que cuida dela, ou seja, sua mãe” (Freud- 1916). Freud fala numa angústia realista, racional e compreensível. Dizemos que é uma reação à percepção de um perigo externo, ou seja, de um dano esperado, previsto, e que está vinculado ao reflexo da fuga e é lícito considerá-lo, ainda bem, manifestação do instinto de autoconservação. 
E Freud se questiona perguntando: Será então que a angústia brota somente do exterior? Mas, a angústia é ausência de descarga por um acúmulo de libido. Então a angústia também vem de nosso universo interior. Ainda sobre angústia, Freud em linguagem corrente, designa sentidos diferentes para angústia, temor e terror. Angústia ou medos se referem ao estado, não considerando o objeto (não sabemos de onde vem a angústia), ao passo que temor chama a atenção precisamente para o objeto (temo algo específico). Terror, por outro lado, parece ter um sentido especial, o de realçar o efeito de um perigo que não é recebido com a prontidão da angústia. 
Pode-se dizer que o homem se protege do terror por meio da angústia. Reconhecemos que o ato do nascimento, no qual se dá um agrupamento de sensações de desprazer, impulsos de descarga e sensações corporais que se tornou para nós o modelo do efeito gerado por um perigo de vida, torna-se uma das primeiras sensações de angústia. Freud fala também de uma angústia expectante ou expectativa angustiante onde as pessoas preveem sempre a concretização da possibilidade mais terrível, interpretam todo acaso como sinal de desgraça, exploram toda incerteza no pior sentido. Esperam sempre a desgraça. São pessoas pessimistas ou muito angustiadas. 
Outra forma de angústia está ligada às fobias que são bastante variadas e muito singulares. Podem ser objetos ou conteúdo de uma fobia: escuridão, ar livre, lugares abertos, gatos, aranhas, lagartas, cobras, ratos, tempestades, etc. Temos as compulsões e também as obsessões, enfim, uma infinidade de sintomas. Diante da inibição, sintomas e angústia do dia a dia de nossa existência, como podemos lidar com tudo isso? Os sintomas são o retorno daquilo que recalcamos. Inibições e sintomas todos têm suas representações, sentido e significados. Quando não damos conta de elaborar, ou seja, simbolizar, então psicossomatizamos e adoecemos. 
“Tenho afirmado que a transformação em ansiedade (angústia) - seria melhor dizer, descarga sob a forma de ansiedade - é o destino imediato da libido quando sujeita à repressão” (Freud, 1916). “Os sintomas criam, portanto, um substituto das satisfações frustradas, realizando uma regressão da libido a épocas de desenvolvimento anteriores, regressão a que necessariamente se vincula um retorno a estágios anteriores de escolha objetal ou de organizações. Descobrimos, há algum tempo, que os neuróticos estão ancorados em algum ponto do seu passado; agora sabemos que esse ponto é o período do seu passado, no qual sua libido não se privava de satisfação, no qual eram felizes” (Freud-1916). Um pouco de como Freud construiu toda sua teoria, enfim, como ele pensava...
 

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