A metrópole que é um monte de um monte

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 20/02/2024
Horário 06:00

O dia nem clareou e o carro está na estrada. Primeiro, vem o trevo da cidade, a base da polícia, o Espigão, Regente e a entrada para o Paraná. Desta vez, não entro. O rumo é leste. Sigo pela Raposo, passo Assis e Ourinhos, onde meu irmão morava e onde por razões inexplicáveis gostava muito de ficar. 
Quase uma hora depois já me encontro com ela, a senhora, a madame, uma das artérias do Estado, a Castelo Branco, ou só Castelo para os íntimos. Dali para frente já começo a sentir o ar do destino que mexe comigo. A metrópole não vai demorar a chegar e meu coração toca em ritmo diferente.  
De uns tempos para cá tenho ido a São Paulo com mais frequência, por questões familiares mesmo. Sempre de carro e quase sempre meio que no esquema bate-e-volta, mas quase sempre com o mesmo gosto de viver o inesperado. 
E vou confessar que gosto muito de ter estes momentos em que alguma coisa acontece no coração da gente, nesta terra tão cheia de contrários. 
Sim, São Paulo sempre me deixou meio assustado, desde criança. Sempre foi, a princípio, algo inatingível e depois um desafio em pensar que ao chegar lá a missão era permanecer vivo. Afinal, um bom exemplar do interior como eu não se contenta com tanta esquizofrenia, tanto movimento. 
São Paulo é sempre um monte de um monte: um monte de pessoas, que moram em um monte de prédios, e andam em um monte de carros, que trafegam em um monte de ruas e avenidas, que ligam um monte de bairros, onde moram mais um monte de mais e mais pessoas. 
E depois de passar pelas grandes paradas, onde me deixo ser explorado em uma simples compra de pão de queijo e café para já viver o custo da metrópole, ela mesma começa a aparecer. A cada quilômetro, tudo parece e é mesmo maior: os caminhões e carretas, as pistas das rodovias, os pedágios, os outdoors, os galpões, as fábricas e mais fábricas. 
E chegam as primeiras cidades antes “da cidade” e os primeiros conglomerados de casas e prédios e tudo aumenta de novo e agora exponencialmente até você entrar de forma marginal na Tietê e depois na Pinheiros para depois sumir no mundo em que a gente não entende nada e se perde metro a metro, esquina a esquina, barulho por barulho.
É, Caetano não erra em “Sampa” quando diz que “quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade”. Nem mesmo quando também crava que depois do susto, “novos baianos te podem curtir numa boa”. 
Eu curto São Paulo de boa.

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