Caminhoneiro sequestrado narra  momentos angustiantes em cativeiro

Quatro vítimas foram mantidas em cárcere privado em uma chácara no Distrito de Coronel Goulart, por criminosos que já haviam levado três caminhões para o Paraguai

PRUDENTE - OSLAINE SILVA

Data 22/10/2021
Horário 15:38
Foto: Oslaine Silva
Mesmo que S. não dissesse uma palavra suas mãos poderiam descrever o medo, a angústia que ainda sentia...! 
Mesmo que S. não dissesse uma palavra suas mãos poderiam descrever o medo, a angústia que ainda sentia...! 

Com 31 anos de estrada, uma das quatro vítimas do sequestro que foi desmantelado ontem, um caminhoneiro de Goioerê (PR), narra momentos angustiantes, de puro terror vivido no cativeiro, uma chácara no Distrito de Coronel Goulart  que foi utilizada por criminosos da baixada santista, que roubavam caminhões para levar para o Paraguai. A reportagem falou com S. como vamos chama-lo, na sede do Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais), nesta manhã, enquanto aguardava a coletiva de imprensa com os delegados responsáveis pelo caso, Dr. Ramon Euclides Guarnieri Pedrão e Dr. Pablo França
A vítima conta que acertou uma carga de ração para carregar em Presidente Prudente rumo à Fortaleza (CE), na quarta-feira. Chegando à localização marcada, ele achou estranho então ligou para a esposa e o filho e disse que achava que tinha dado errado a carga. O filho então lhe pediu a localização e orientou o pai para sair de onde estava, pois não era ali. Nesse momento chegaram três homens vestidos com coletes refletores, capacetes e disseram que era ali mesmo o carregamento. Mandaram-no encostar o caminhão para que fizessem uma vistoria para enviar ao escritório para liberar o carregamento. “Nisso um deles pediu que um dos caras entrasse no caminhão para olhar o tacógrafo, então eu disse que não iria carregar na cabine e sim na carroceria. E ai o que já estava dentro do caminhão pegou o revolver apontou pra minha cabeça e disse: ‘perdeu, perdeu malandro[soluça]’. Ai me puseram num carro. Trancaram meu caminhão e deixaram ali. E me levaram para o cativeiro onde já tinha mais três motoristas. Dois num quarto e um em outro”, narra a vítima com voz trêmula.

Familia atenta
Ali o medo era constante e conforme a vítima ele e os colegas eram pressionados o tempo todo, com os sequestradores pedindo PIX. Ele tinha a quantia de R$ 2.5 mil na boleia eles pegaram tudo. “Eu nunca passei por uma coisa dessas na minha vida. Meu maior medo era de não sair vivo dali. Ficar fechado, trancado ali dentro sem ter a certeza de que iria sair. Eu não vejo a hora de ver minha família”, conta com a voz embargada S. 
Graças a Deus a família de S., esposa e filho, é atenta a detalhes, ela fez um B.O., e o acompanhava pelo celular e pelo rastreador do caminhão. Os supostos sequestradores o mandavam dizer via mensagem que estava carregando, mas acompanhando a movimentação mãe e filho viam que não estava batendo. O caminhão então se deslocou indo para o lado do Mato Grosso do Sul (MS). “Foi ai que passaram para a Polícia Rodoviária e eles fizeram o acompanhamento e conseguiram pegar. Quando eles souberam que tinham prendido meu caminhão eles fugiram. Porque meu filho passou uma mensagem pra mim perguntando: ‘o pai o que tá acontecendo que seu caminhão tá parado na polícia rodoviária tem meia hora? Liguei lá e o motorista tá preso’”. E depois de algum tempo a polícia estourou o cativeiro, graças a Deus, relembra ainda angustiado, contudo aliviado, o motorista que em suas mãos controla há três décadas na estrada o volante do seu ganha pão! 


“EU NUNCA PASSEI POR UMA COISA DESSAS NA MINHA VIDA. MEU MAIOR MEDO ERA DE NÃO SAIR VIVO DALI. FICAR FECHADO, TRANCADO ALI DENTRO SEM TER A CERTEZA DE QUE IRIA SAIR. EU NÃO VEJO A HORA DE VER MINHA FAMÍLIA”
Vítima S

 

Foto: Oslaine Silva

Momento em que policiais chegaram até a chácara no Distrito de Coronel Goulart
 

Fotos: Polícia Civil Presidente Prudente

Um dos quartoe em que estava uma das vítimas em cárcere privado; o tempo todo a porta era mantida fechada por fora

 

Nem mesmo para ir ao banheiro as vítimas tinham permissão; ali mesmo elas faziam suas necessidades fisiológicas

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