Chama da Folia de Reis segue acesa em diversas comunidades do oeste paulista

Tradição popular de cunho católico reúne foliões em Iepê, Pacaembu e em distritos de Presidente Prudente, Presidente Bernardes e Regente Feijó   

VARIEDADES - CAIO GERVAZONI

Data 06/01/2024
Horário 07:01
Foto: Reprodução/Gasalucinação
20 pessoas compõem o “Grupo de Reis de Floresta do Sul”, fundado em 1950
20 pessoas compõem o “Grupo de Reis de Floresta do Sul”, fundado em 1950

Neste sábado, dia 6 de janeiro, é celebrado o Dia dos Santos Reis, data que marca a visita dos três Reis Magos – Melchior, Gaspar e Baltazar – ao recém-nascido Jesus, conforme a tradição cristã. 

De acordo com o historiador Luiz Antonio Simas, no livro “Almanaque Brasilidades”, a tradição brasileira da Folia de Reis é certamente de origem ibérica e manifesta-se na formação de grupos de foliões que visitam as casas de fiéis com estandartes e instrumentos musicais no anúncio da renovação com o nascimento de Cristo. 

No oeste paulista, a tradição de Reis se mantém viva na folia popular e cada manifestação é moldada pelos aspectos culturais das comunidades locais. Em Flórida Paulista, por exemplo, o grupo “Primos do Ribeirão” - composto por 20 pessoas, entre músicos, cantores e palhaços - começou a visita nas casas bairro rural do Ribeirão Bonito a partir do dia de Natal, com caminhadas e cantorias quase que diárias, estendendo-se para outras localidades de Iepê até o dia que antecede a festa.

Segundo o violeiro e contramestre da folia do “Primos do Ribeirão”, Lúcio Monteiro, mais conhecido como Lúcio Viola, as famílias estão acostumadas a receber a folia, mas muitas pessoas fazem pedidos para que o grupo vá até suas casas para receberem a bandeira. 

“O povo aceita bem, ainda é uma festa ligada a religião e mesmo assim o povo é muito receptivo”, relata o violeiro. “A importância é por conta da religiosidade, de manter a tradição dos nossos avós e pais, de apresenta-la para as novas gerações”, responde Lúcio Viola ao ser questionado sobre a importância cultural da Folia de Reis. 

A festa de Santos Reis em Iepê não acontece desde 2021 e, após três anos, volta a ser realizada em 2024, neste sábado. Lúcio Viola conta que a expectativa do grupo é receber entre 1.000 e 1.500 pessoas ao longo do dia na capela Nossa Senhora Aparecida, no Bairro do Ribeirão Bonito. A entrada do bairro fica entre o km 108 e 109 da Rodovia Jorge Bassil Dower (SP-241).

Mais de 70 anos de tradição em Floresta

Em Floresta do Sul, distrito de Presidente Prudente, a tradição da Folia de Reis acontece há mais de sete décadas. O “Grupo de Reis de Floresta do Sul” foi fundado em 1950 por Espedito Silva, que faleceu há cerca de dois anos por conta da Covid-19. Atualmente, 20 pessoas compõem o coletivo que desde a meia-noite do dia 25 de dezembro deu início às celebrações voltadas à trajetória dos Reis Magos do Oriente ao encontro do recém-nascido Jesus.  

O embaixador da folia em Floresta do Sul, Paulo Ferreira da Silva, conta que participa da manifestação cultural e religiosa há 25 anos. Segundo ele, a recepção das pessoas à folia do grupo é sempre marcada por “muita alegria e fé”. No ciclo atual, os foliões de Reis já fizeram visitas em Presidente Prudente, no distrito de Eneida, em Álvares Machado e também em Alfredo Marcondes. “O tempo é curto, não dá pra ir em todos os lugares que gostaríamos”, lamenta Paulo. 

A festa de Santos Reis em Floresta do Sul acontece neste sábado na igreja do distrito. 

“Bandeira Estrela Dalva, de Pacaembu"

 “Saímos tocando de casa em casa todo ano. Isso há 11 anos já”, conta Messias dos Santos, tesoureiro do grupo “Bandeira Estrela Dalva”, de Pacaembu. Atualmente, 12 foliões fazem parte do coletivo que leva o nome da “estrela” que guiou os reis magos até Belém, na Palestina, onde Maria deu à luz a Cristo, conforme a tradição cristã. Cientificamente, a estrela d’alva ou estrela-da-manhã é o planeta Vênus. 

Desde 2013, o grupo anima as ruas de Pacaembu com um ciclo lúdico de caminhada e cantoria que percorre as casas das famílias do município do dia 12 de dezembro e até 6 de janeiro, culminando na realização da festa em celebração a Melchior, Gaspar e Baltazar no encontro com o menino Jesus. “Os novos, os velhos... todo mundo recebe a bandeira com carinho e respeito”, relata Messias, o tesoureiro. “É algo que vem da família, de nossos país, avós. É uma tradição seguimos até hoje, é algo bonito que encanta todo mundo”, relata. 

Cedida/Messias dos Santos

Atualmente, 12 foliões fazem parte do “Bandeira Estrela Dalva”, grupo que mantém viva a tradição da Folia de Reis em Pacaembu

Neste sábado, os foliões do “Bandeira Estrela Dalva” fecham o ciclo de celebrações com a inauguração de uma praça pública em Pacaembu, na Rua Guaraniuva, a partir das 10h30. 

2 décadas de tradição no distrito de Araxãs

Em Presidente Bernardes, no distrito de Araxãs, a tradição da celebração aos Reis Magos segue viva há 20 anos. De acordo com Breno Espolador, membro da Folia de Reis do distrito, 25 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, a caminhada começa no Natal e segue até o Dia de Santos Reis. “Visitamos todo nosso distrito, passamos pelo Bairro Santo Antonio, por algumas casas de Emilianópolis e de moradores antigos ou fazem parte de nossa folia em Presidente Bernardes”, conta o membro do grupo.

Cedida/ Breno Espolador

25 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, compõe o grupo da Folia de Reis do distrito de Araxãs, em Presidente Bernardes

No coração da tradição da Folia de Reis, em Araxãs, Breno conta os detalhes da visita do grupo às residências locais. Ele descreve o protocolo, começando com um pedido de permissão para adentrar as casas, seguido por uma melodia entoada pelos membros. Os três palhaços, figuras que representam os Reis Magos, então solicitam à pessoa anfitriã uma contribuição para a bandeira. 

“A pessoa dá aquilo que ela possa oferecer de coração, depois cantamos mais músicas e, se houver presépio na casa, os palhaços retiram as máscaras em sinal de terem encontrado o menino Jesus e se prostram de joelhos em frente ao presépio simbolizando o mesmo ato dos três Reis do Oriente. Depois disso, fazemos uma ração e seguimos para outra casa”, relata. 

Em Araxãs, a festa não acontece no Dia de Santos Reis e é apenas direcionada para as pessoas que receberam a visita do grupo. Neste sábado, às 19h, será celebrada a missa da Epifania de Cristo aos Reis Magos na Paróquia Santa Luzia. 

Em Regente, quarteto mantém tradição viva

Em Regente Feijó, no bairro rural de São Sebastião, conhecido popularmente por “Pito Acesso”, um quarteto, composto por dois músicos e dois palhaços, mantém a chama da Folia de Reis viva na comunidade local.  “Nós cantamos ao longo de oito noites”, conta o funcionário público Pedro Servino, 72 anos. Ele compõe o quarteto, que na trajetória da Folia de Reis, passou por casas na zona urbana de Regente Feijó, em Taciba e em Indiana. “Vish, rapaz... se a gente não for cantar nas casas das famílias que estão acostumadas a nos receber, o pessoal fica nos ligando”, conta o folião 

Pedro participa da Folia de Reis há 40 anos e relata que acha importante manter a tradição viva. “É uma tradição que temos que fazer todo ano, nem que for pra cantar por um só dia”, pontua o folião. Para celebrar o dia de Reis, o quarteto fará um “almocinho” simples para fechar a trajetória da folia. 

Cedida/Lúcio Monteiro

“Primos do Ribeirão” começou a visita no bairro rural do Ribeirão Bonito, em Iepê, a partir do Natal, com caminhadas e cantorias quase que diárias, estendendo-se para outras localidades do município 

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