“Filhos do quarto”

OPINIÃO - Rosana Borges Gonçalves

Data 06/08/2022
Horário 05:00

Segundo os últimos dados disponíveis pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), globalmente, pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada por lockdowns. Numa crise econômica mundial como esta, as famílias se desdobram. Trabalham reiteradamente em mais de um emprego, para poder sustentar suas casas, e consequentemente dar uma educação melhor para seus filhos. 
Provavelmente os filhos, crianças ou já adolescentes, ficam em casa e, em seguimento, o cômodo da casa preferido na maior parte do dia são seus quartos. Nestes, alguns contam com TVs, celulares à disposição e provavelmente um videogame e, por lá ficam a maior parte de seu dia. Não gostam de se socializar e por isso não saem de casa. Quase não praticam esportes. Se o caro leitor (a) se identificar com uma ou mais das características apresentadas acima em sua rotina, você não está sozinho (a) e provavelmente, tem um “filho do quarto”.
Vários fatores influenciam esta nova realidade, desde o fato de estarmos ainda passando por uma pandemia, onde não só as crianças e adolescentes, como todos, tivemos que reinventar uma rotina na qual precisávamos nos proteger, passando a maior parte do tempo isolados, até o fato de a infância e a adolescência já terem por si só seus desafios referentes ao crescimento. 
Transtornos mentais diagnosticados – incluindo transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ansiedade, transtorno de conduta, depressão e transtornos alimentares são alguns dos impactos causados desde o começo do coronavírus, segundo relatório apontado pelo Unicef em 5 de outubro de 2021.
O desafio se estende às salas de aula, e os investimentos em saúde mental para nossas crianças e adolescentes são iminentes. Uma estratégia plausível seria a inserção de psicólogos na escola com o intuito de cuidar da saúde mental destes. A Lei 13.935 de 2019 prevê nas redes públicas de educação básica os serviços de psicologia e serviço social. Vale ressaltar que a lei é para psicólogas/os na rede de educação e não um em cada escola, mas com certeza já é um avanço grandioso se for cumprido.
Entendemos que também somos responsáveis pela rotina de nossos filhos e sem apontar culpados, podemos buscar uma forma de transformarmos essa realidade tão dolorosa para nossas crianças. Inferimos que o dia a dia dos pais é desafiador e o tempo pode ser curto. Embora, sabemos que o que realmente vale a pena são momentos de qualidade, dentro da própria rotina da casa. Perguntar como foi o dia, o que aconteceu na escola, ou chamá-lo (a) após o jantar para aquele jogo que ele mais gosta. Coisas simples que unem e reforçam laços de confiança e amor.  Afinal, filhos são bênçãos e merecem um crescimento digno para que não terminem enclausurados como “filhos do quarto”!
 

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