Eu não vejo a hora de assistir a nova série da TV Cultura – “Independências”, que começa no dia 7 de setembro. A proposta é de desconstrução da ideia de uma história do Brasil que enaltecesse os vultos pátrios, numa espécie de revisão reflexiva do passado do país. O elenco conta com grandes nomes, como Walderez de Barros (D. Maria I), Antônio Fagundes (Dom João VI), Daniel de Oliveira (D. Pedro I), Ilna Kaplan (Carlota Joaquina), Louisa Sexton (Leopoldina), Celso Frateschi (José Bonifácio), dentre outros. Vale a pena conferir.
A figura heróica de Dom Pedro I sempre atravessou a minha vida. A escola que fiz os primeiros anos primários ficava em frente ao Palácio dos Campos Elíseos, na área central de São Paulo. Eu tinha 9 anos e me lembro de visitar ali do lado os restos mortais de Dom Pedro que o regime militar havia conseguido repatriar para as Comemorações Cívicas dos 150 anos de independência. Depois o pomposo caixão foi preservado com todas as honras militares lá na Cripta do Mausoléu do Ipiranga, onde hoje também se encontra os restos mortais de suas duas mulheres, Dona Leopoldina e Dona Amélia.
Nas comemorações dos 200 anos de independência, agora é a vez do coração de Dom Pedro I. Eu nem sabia que ele é preservado desde 1834, como uma relíquia da cidade de Porto, para atender o último desejo do regente português em seu leito de morte.
Mas isso tudo não passa de uma cortina de fumaça. O que importa é que o ato da independência não corresponde somente ao famoso grito do Ipiranga. É preciso compreender o encadeamento dos acontecimentos desde a mudança da corte real para o Brasil (fato sem precedentes na história da monarquia mundial!). Qual foi o papel do Brasil monárquico no plano da política internacional que integrava as dinastias dos Habsburgo (Áustria) e Bragança (Portugal)? O que representou os 9 anos de reinado de Dom Pedro I, marcado por muitos conflitos entre os chamados liberais e os absolutistas? Quais contradições guardavam a continuidade da escravidão em um sistema constitucional?
Eu tive a sorte de conviver com maravilhosos professores de História. Já no primeiro ano do colégio, o professor Tota discutiu conosco o “18 de Brumário de Luis Bonaparte”. Foi com o saudoso professor Raymundo que conhecemos a “História da riqueza do homem”. Mas meu interesse pelo Império começou com as aulas da Lena e cresceu a partir da convivência na universidade com o professor Jayro. Fico imaginando uma aula imaginária desses grandes mestres indagando sobre o sentido da vida desse fascinante personagem da história do Brasil: Dom Pedro I.