- E aí, rapaz? Tudo bem? Eu sou o pulmão.
- Tudo sim. Meio confuso ainda, não conheço bem por aqui...
- Ah, logo se acostuma e no fundo vai ver algumas semelhanças, como por exemplo, fica sempre no mesmo lugar, batendo conforme o fluxo que entra e saí.
- Ah, mano, nisso eu sou bom hein? De onde eu venho o rolê era nervoso todo dia, não tinha muita paz não, Poucas ideias e muita ação. E a gente passava cada perrengue...
- É, quando é vida com emoção, aí lascou mesmo. E seu dono cuidava de você com boa alimentação, caminhadas, falta de vícios?
- Normal, né? Não morreu por minha causa, mas cumpriu o dever dele. Doar órgãos é um ato de cidadania e humanização. E é tão fácil: basta anunciar à família que você é doador e pronto. Muitas pessoas passam a vida buscando saída para suas doenças e muitas vezes é o transplante que resolve.
- E você sabe onde é que veio parar? No corpo de quem?
- Nem imagino. Foi tanta correria, me tiraram do sono, tacaram no gelo, um horror, daí viajaram comigo de avião e quando cheguei aqui me encharcaram de água e uns produtos lá. Nem dei conta de ver. Sei que é homem, pelo que estão vendo daqui e tem um cabeção, hein?
- hahahah Pois é, você veio parar no corpo do apresentador Fausto Silva: Oloco, bicho, orrrrrrra meu! Olha o que faz essa maldita manguaça.
- Errrrrrroooooouuuuu! Que legal estar neste corpo agora. Deu até mais vontade de bater, acelerar porque ele é fera!
- Só cuidado para não gerar uma arritmia hahahah
- Mas engraçado que antes de eu vir para cá, meu antigo dono já tinha participado de umas discussões sobre o Faustão e acredita que na maior parte das vezes as conversas giravam em torno de saber se ele iria “dar um jeitinho” e passar na frente da fila do transplante.
- Pois é, povo sem noção mesmo. Não conhecem o SUS e ainda vão esculachar. É cada gente sem noção alguma, que só quer lacrar em cima de um bom projeto.
- Poderiam tocar a vida, como agora o Fausto vai tocar e com alguns aprendizados. Todo este tempo que vivemos na Terra é muito curto. Precisamos organizar nossas agendas para, no mínimo, ser uma pessoa feliz, e deixar de lado picuinhas.
- É, uma pessoa feliz, que reconheça que dinheiro, bem-estar, classes sociais, roupas caras, viagens internacionais, não são nada perto da importância do próprio ser. Você vê, uma pessoa cheia da nota, com tudo que poderia ter na mão e ao mesmo tempo sem nada. Joias, carros, casas, glamour etc foram por água abaixo quando no fundo, o que ela precisou mesmo foi de um mero músculo e em bom estado.
- Esse povo vai apreender sim, na manha ou na marra. E deixe de conversa boba sobre o que não dá futuro e vamos nos preparar porque como diz um amigo meu por aí: “Quem sabe faz ao vivo!”.