Olhe com atenção para a Barbie

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 25/07/2023
Horário 06:00

Barbie chegou aos 64 anos em alta e se quase tudo que você olha por aí tem a cor rosa, não se assuste: você está sendo impactado por uma das campanhas de comunicação mais bem elaboradas da história recente do cinema e das marcas e que tem como um dos principais temas a renúncia a uma vida envelhecida em cima de preconceitos e conservadorismo.
A boneca alta e loira, criada em 1959, foi responsável por influenciar gerações inteiras com um “lifestyle” tradicional americano até chegar ao mundo digital e encarar um mundo globalizado, diverso, interativo e questionador. Foi aí que tudo começou a mudar e os anos recentes mostraram que a personagem teve no mínimo decência para se ajustar ao que o mercado queria. 
Eu, porém, gosto de pensar que seus criadores tentam fazer da personagem um instrumento de transformação mais ajustado ao que de fato somos e o filme, que definitivamente não é infantil, traz em seu contexto a crítica aberta à visão estereotipada que se tem ainda da mulher e da própria forma como encaramos a diversidade e a própria vida que passa. 
Sim, porque Barbie envelheceu, mas se recusa a ser velha e conservadora e no lugar de uma festinha de arromba brega, dessas que os tiozões e tiazinhas fazem por aí, resolveu mostrar em um filme que o avanço da idade só traz a oportunidade de sermos mais maduros, questionadores e conscientes de um mundo melhor.
Barbie sempre foi a boneca de salto alto e poderosa, mas já ganhou uma variedade imensa de corpos, etnias, condições e até se metamorfoseou em diversas profissões. Sempre foi mais que um brinquedo ao mostrar que as mulheres possuem poder de escolha. Sempre foi uma marca, mas que nos chama também a acreditar que não podemos envelhecer e morrer em cima de nossos preconceitos e limitações.
Eu tenho cabelos brancos desde os meus 27 anos. Marquei exatamente esta data porque foi quando aceitei que, sim, a genética não me pouparia de um telhado em neve. 
Se me importo? Nem um pouco. As brincadeiras são muitas e as confusões em relação à minha idade maiores ainda. Já fui conduzido em um shopping pelo rapaz do estacionamento até a vaga de idoso e na farmácia já me disseram que teria desconto por ser idoso. 
Enfim, hoje aos 48 anos a “cabeça branca” se ajusta melhor à idade, o que não significa estar ainda livre de zoeiras e confusões mentais, mas o que definitivamente sou é uma pessoa que não está envelhecendo, mas sim usando a maturidade para se ajustar em um mundo cada vez mais complexo.
Não admito que uma pessoa diga que este mundo digital não é para ela. Pode ser até que os mecanismos de produção e que a quantidade de informações disponíveis sejam de fato mais difíceis de lidar e até de acompanhar, mas jogar a toalha e simplesmente descer do bonde é dar adeus ao mundo que vai seguir em frente. 
Perdi a conta de quantas barreiras já quebrei desde que decidi me integrar ao universo digital, pessoal e profissionalmente, e posso garantir que as melhores transformações não foram técnicas e sim de mudança de olhar para tudo hoje que me cerca, aqui pertinho ou lá do outro lado do mundo. 
E assim como a Barbie sempre será a Barbie, tudo isso significa ser o Roberto Mancuzo de sempre, só que também com mais sabedoria para encarar os começos e finais dos ciclos, saúde física e mental em dia e disposição para acolher a diversidade da vida.

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