Roda mundo

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 05/05/2024
Horário 05:00

10 de fevereiro de 1990. Era uma aula de Geografia do Brasil. E eu ali, na capital da Alta Sorocabana, em uma sala repleta de estudantes do 3º ano para a primeira aula na Unesp. Sentia-me embarcando no Zepelin, pronto para desbravar novos caminhos, pensando no futuro do Brasil a partir das barrancas do Paranapanema. 
10 de fevereiro de 2021. Foi a última aula que ministrei na graduação em Geografia da Unesp. Sensação de despedida. Agora eu não olhava mais para o futuro, mas passava um filme dos 30 anos que estive em sala de aula. Diferente do tempo daquele jovem professor, que percorria o espaço entre as carteiras dos estudantes entre esboços e rabiscos no quadro de giz, expus o último tópico de cartografia temática para uma turma abstrata, representada por fotos congeladas na tela do computador. 
Diante das limitações impostas pelas aulas remotas, busquei no fundo da minha alma toda força para que a aula tivesse êxito. Lembrei-me de muitos encontros que ocorreram em sala de aula. Quando uma pergunta de uma aluna me fazia repensar as leituras programadas. Das descobertas que fizemos juntos diante de uma simples fotografia. Das deliciosas interações entre a geografia e a arte. Dos segredos revelados pelos percursos de cada um diante das janelas que a geografia nos abre para o mundo. 
E dessas inúmeras lembranças que ainda vibram forte no meu peito, a aula aconteceu. Sim, eu aprendi no meu tempo de magistério que a aula não é apenas um determinado período no qual estudantes e o professor, cercados por quatro paredes, manipulam facetas do conhecimento. Nenhum professor “dá uma aula”, como se diz na linguagem do senso comum. Pelo contrário, a aula é um processo de trabalho, precisa ser produzida. Ela somente acontece quando, ao término do encontro, professores e estudantes se sentem diferentes, mais humanos. A aula é um processo de humanização!
3 de maio de 2024. A Unesp de Presidente Prudente comemorou os seus 65 anos! A faculdade surgiu lá na década de 1950 como um sonho de estudantes secundaristas em continuar estudando no ensino superior. Houve aqui um movimento muito forte dos estudantes que reivindicavam a criação de uma faculdade em Presidente Prudente porque eles não conseguiam ir estudar lá em São Paulo. Os alunos conseguiram mobilizar as autoridades locais, outros agentes políticos e para cá vieram investimentos.
 
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
 

Publicidade

Veja também