“Se a fisiatria conseguir acessar todos os hospitais, a economia será significativa”

Gabriel de Oliveira Lima Carapeba, MÉDICO FISIATRA

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 31/07/2019
Horário 07:10
Weverson Nascimento: Gabriel de Oliveira Lima Carapeba, MÉDICO FISIATRA
Weverson Nascimento: Gabriel de Oliveira Lima Carapeba, MÉDICO FISIATRA

Hoje, com 35 anos, o médico fisiatra Gabriel de Oliveira Lima Carapeba, soma ao currículo trabalhos prestados à Marinha do Brasil, além do Exército Brasileiro onde realizou o treinamento de reabilitação nos hospitais. Atualmente, é diretor da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente, da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). O fisiatra recentemente defendeu sua peça de doutorado em Fisiopatologia e Saúde Animal, na mesma instituição, ao desenvolver uma técnica utilizada em castração de gatas a qual oferece benefícios ao bem-estar animal ao associar anestésico e anti-inflamatório para redução da dor durante e após a cirurgia.

 

O Imparcial: O que o levou a desenvolver uma pesquisa científica voltada à castração de gatas?

Gabriel: No doutorado, a princípio, era para ser uma continuação da mesma área do mestrado, mas tinha uma nova técnica que eu trabalhava na fisiatria para o tratamento de dor através da mesoterapia. A mesoterapia é conhecida pela população, talvez pelo uso dela na dermatologia, porém, ela pode ser utilizada para tratar lesões agudas ou crônicas, além do tratamento de dor. Então, fizemos modificações e começamos aplicar durante o processo de castração de gatas e o resultado foi muito favorável. As gatas que conseguimos aplicar durante o processo de castração, ou seja, utilizar essa medicação analgésica, o pós-operatório foi melhor, pois sofreram menos.

 

Quais resultados você obteve por meio da sua pesquisa e quais contribuições isso deve trazer para a saúde animal?

Os resultados que nós obtivemos é que, clinicamente, é uma técnica extremamente fácil de ser aplicada por qualquer veterinário. O resultado de conforto ao animal é muito favorável. Então, é uma técnica que vale a pena realizar quando for promover uma castração. É fácil de fazer e o resultado para o animal é muito bom.

 

Quando falamos em médico, normalmente nos vem à cabeça a figura do profissional atendendo um ser humano. Por que o senhor quis voltar os seus estudos também para a saúde e bem-estar animal?

A importância é que muitas coisas da medicina humana vem de experimentos em animais. E, eu acho, que às vezes, é justo, a gente conseguir contribuir também para os animais com alguma técnica que a gente já utiliza na medicina humana, principalmente relacionada à diminuição de dor, que foi o que eu busquei com a pesquisa.

 

Hoje, o senhor é diretor do único curso de Medicina em Presidente Prudente. Isso aumenta as responsabilidades, uma vez que toda a formação local de médicos está concentrada na Unoeste?

Eu estou há sete anos à frente do curso de Medicina como diretor. O mais interessante disso tudo é o quanto eu aprendo com os alunos e também com os professores. A cada ano modifica muito a personalidade, digamos assim, do aluno ingressante e modifica muito aquilo que ele almeja. O curso de Medicina, atualmente, tem um foco principal que é aquele norte que nós buscamos e que diante disso, conseguimos colocar várias adaptações para que se possa contemplar aquilo que o aluno ingressante deseja.  

 

Quais as principais vertentes do curso?

É um curso extremamente sólido e que nos permite acrescentar metodologias novas a cada ano que passa, para que se consiga melhorar e acompanhar a evolução do jovem de hoje em dia. A responsabilidade é muito grande para isso. Então, eu preciso estar ligado o tempo inteiro em quem são os alunos que ingressaram, quem são os alunos que estão cursando, e como eles estão saindo e indo para o mercado de trabalho, para que eu consiga propor adaptações ao curso, pois não depende só de mim. Tudo aqui é feito de maneira extremamente aberta e bem participativa de todos.

 

Que trabalhos o senhor prioriza atualmente visando a formação qualificada dos jovens?

Nós temos uma infraestrutura gigantesca, uma das melhores do país e melhor do que várias faculdades públicas, inclusive. Aqui se investe muito em tecnologia e naquilo que a gente pode ofertar de diferente, novo e inovador para os nossos alunos. Estamos em um munícipio que hoje é considerado um dos melhores para se morar no Brasil por índices comprovados. Nós estamos em uma cidade onde os alunos têm contato com a população, porque eles estão inseridos desde hospitais até os postos de saúde que ficam nas periferias, ou seja, ele começa o contato com a prática médica desde o primeiro ano quando entra na faculdade. Ele não tem noção ainda do que é saúde, do que é doença, mas ele começa aprender já na prática. Atualmente, temos robôs que são perfeitos, que simulam exatamente a realidade. Então, se um aluno precisa entubar um paciente, realizar um parto, fazer a pulsão de uma veia, ou de uma artéria, nós temos aparelhos em que ele poderá testar até achar que está bom para conseguir colocar em prática. Esse é o nosso diferencial.

 

O senhor é um médico fisiatra. A fisiatria é um ramo novo na Medicina?

A fisiatria começou no início do século 20, mais ou menos e é uma especialidade que lida com a função do paciente. Então, nós lidamos com incapacidades. A fisiatria é uma especialidade que cresceu muito durante a segunda guerra mundial, por conta dos sequelados de guerra, ou seja, aqueles pacientes que em combate sofreram principalmente amputações ou lesões extremamente graves e que, naquela época ficariam jogados num quartinho de maneira inválida, sem conseguir produzir. A fisiatria chegou para modificar o futuro desse paciente, pois muitas vezes dependendo da incapacidade, nós não conseguimos modificar essa incapacidade, mas conseguimos aumentar o campo de capacidade do paciente.

 

Podemos encontrar um médico fisiatra em qualquer ambiente médico?

Infelizmente ainda é limitado. A fisiatria tem crescido bastante no Brasil e tem começado a entrar em alguns hospitais. Porém, seria necessário, em minha opinião, estar presente em todos os hospitais existentes, uma vez que o fisiatra, a função dele dentro de um hospital, é abreviar a alta do paciente. Então, se eu pego um paciente que está na UTI, eu vou trabalhar com ele uma maneira para que o corpo dele comece a responder cada vez mais rápido e não só esperando os medicamentos agirem. O corpo dele estando mais saudável e com uma maior vitalidade, ele tem uma alta mais rápida da UTI.

 

Quais são seus benefícios dentro da saúde pública?

Hoje, se um paciente vai para a enfermaria, eu não preciso esperar aquele tempo grande de dias para que ele consiga voltar a recompor as energias, principalmente física. Então, eu começo esse trabalho na própria UTI. Quando ele chega à enfermaria, dependente da gravidade, já pode começar um trabalho de fortalecimento para que ele possa ir ao banheiro sozinho, tomar banho sozinho, fazer algumas pequenas caminhadas no corredor, para que quando ele sair do hospital e for para casa dele, já saia o mais independente possível, de acordo com a patologia. Se a fisiatria conseguir acessar todos os hospitais, o dinheiro que você economizaria com internação e a quantidade de leitos que você conseguiria vagar, seria grande, por isso eu considero muito importante.

 

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