A ética presbiteriana a serviço do ser humano (162 anos no Brasil)

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 17/08/2021
Horário 05:00

Normalmente se acredita que os protestantes reformados criaram apenas um sistema de doutrinas teológicas e pensamentos metafísicos nas origens do iluminismo. Mas, a contribuição calvinista engloba muitas áreas da existência e diferentes compartimentos da reflexão humanizadora do mundo ocidental cristão. 
Em outras palavras: muitas das conquistas do mundo moderno, do método científico indutivo e a investigação da natureza à liberdade de expressão e de imprensa; do sistema democrático representativo ao pensamento econômico vieram do movimento calvinista/presbiteriano do século XVI. 
Pode-se dizer que a ética social calvinista/presbiteriana tem como base três fundamentos desde a sua origem na Europa: vocação, honestidade e economia com parcimônia, transparência e solidariedade.  
Quanto à vocação. Trata se de conceito que implica na universalidade do chamado divino. Em outras palavras: 1. Deus vocaciona todo o ser humano para uma tarefa social, um trabalho e uma responsabilidade. O trabalho é bênção de Deus e de forma alguma é punição ao homem e à mulher, como resultado de pecado ou maldição divina. Dentro da graça comum, todos somos enviados ao trabalho que modifica a natureza e transforma o ser humano. Somos, assim, vice-regentes com Deus no processo de criação ou de mudança construtiva e aperfeiçoamento da criação divina. 2. Todas as vocações são igualmente importantes, por isso dignas por mais humildes que aparentemente sejam. 
Quanto à economia. O protestante, particularmente, o presbiteriano de Genebra e depois Escócia, nos seus primórdios viviam a partir de dois princípios: nunca gastar mais do que se tem e poupar o que não foi necessário gastar. Convertia-se ao evangelho de Jesus Cristo e era convidado a viver de forma humilde e sem ostentação convertendo a poupança em investimentos para empreendedorismos e crescimento econômico. A reforma protestante também negou a usura permitindo, de maneira solidária e legal, a implantação de um sistema financeiro possibilitando o empréstimo e o financiamento de empreendimentos comerciais e empresariais, o que antes era privilégio apenas da nobreza na Idade Média. 
Quanto à honestidade. Exigia-se do cristão presbiteriano: probidade e transparência nos negócios sem desejar lograr benefícios interesseiros, sobretudo, a partir do engano e da ausência de lisura com a parte que se negocia. O capitalismo explorador nunca foi subproduto do mundo presbiteriano pensado e posto em prática por João Calvino, pois todo o pensamento sociopolítico calvinista passava por um sofisticado sistema de auditorias e balanceamentos que visavam promover a justiça negando o ganho exagerado de uns poucos em detrimento do sofrimento da maioria da população. 
Para se expandir a cosmovisão do ideal presbiteriano, acreditava-se que a educação era condição sine qua non para propagar as ideias reformadas. Dessa iniciativa veio o compromisso com a formação do ser humano, o respeito pela criança e o direito à educação tão bem ensinado por Comênio, educador protestante do século XVI, e que deu início à sistematização da pedagogia e da didática no Ocidente. Com humildade, respeito e tolerância a todas as religiões do país!
 

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