Afasta de nós esse “cale-se”!

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 05/04/2022
Horário 04:30

A justiça e a paz se abraçarão.
Salmo 85.10
 
Infelizmente, na última quinta-feira (31 de março), constatou-se pouca menção da imprensa brasileira ao regime de exceção no Brasil, ao longo de 20 anos (1964-1985). 
Quando Ulisses Guimarães, presidente da Câmara Federal em 1988, promulgou a Constituição (chamada de cidadã), assistindo ao evento lembro-me bem de suas palavras: “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca! E emendou: Tenho ódio à ditadura. Ódio e nojo”. 
Historicamente, o deputado federal tinha razões de sobra para odiar o regime imposto, portanto, autoritário dos anos 60. 
A primeira iniciativa, a partir da madrugada de1º de abril de 1964 (não ficaria bem que as forças armadas demarcassem o golpe militar no dia da mentira, daí o 31 de março), foi a deposição do presidente eleito. A seguir, o atropelo à Constituição Federal rompendo com o processo democrático; a extinção dos Poderes da República e direitos dos cidadãos (suspensão das eleições diretas e do amplo direito de defesa); e a governança por meio de Atos Institucionais, que deveriam ser cumpridos (o pior deles: AI5 -1968/1978).
Para manter a autoridade contra o inimigo político, restringiu-se a liberdade à força da lei imposta e sob a égide das armas: identificando e encontrando o "inimigo" para produzir provas que o condenasse; torturando - torturador é o ser mais abjeto/desprezível da humanidade, porque não se mostra, esconde-se em sua covardia, ao executar e omitir a mão sangrenta que agride e mata a vida – criação divina – (é possível ser discípulo de Cristo e apologizar os feitos dos torturadores? É possível justificar, em nome de Deus e seu amor, a tortura?); e matando em nome do estabelecido autocraticamente/autoritariamente. 
Vale lembrar: “91 brasileiros que resistiram à ditadura foram mortos, 210 estão até hoje desaparecidos e foram localizados apenas 33 corpos, totalizando 434 militantes mortos e desaparecidos”. Fonte: CNV. 
Esse estado de exceção abateu também muitos soldados e militares nas reações civis, algumas delas: extremamente violentas, descabidas e desumanas!
Exílios e êxodos, naturalmente, o melhor caminho a se fazer no Brasil de então.  
A arapongagem, o “dedo-durismo/entreguismo”, a traição se torna (nesse tempo) modus operandi, nada ético e cristão, num ambiente sem liberdade e tolerância. Razão porque não devemos louvá-lo, muito menos elogiá-lo. Seja entre os que são liberais (social e economicamente falando) ou entre aqueles que desejam um estado maior na gerência do país. 
Que nunca mais experimentemos uma época árdua e sombria de intolerância, exclusão e violência. Que a política (solidária, respeitosa e cristã) dos divergentes auxilie o abraço da justiça e da paz. 
Que a democracia brasileira sobreviva às intempéries e quaisquer vocações autoritárias que a desejam derrubar. 
Ditadura, gente querida, nunca mais!
Tortura, nunca mais! 
Democracia e liberdade, sempre! 

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