O domingo (9), primeiro dia de prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), teve questões de linguagem e ciências humanas, e a tão esperada redação com o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. No próximo domingo (16), os participantes resolverão questões de ciências da natureza e matemática.
A reportagem conversou com dois professores sobre esse primeiro dia de prova do Enem, que falaram sobre o tema da redação deste ano. Para o professor de Geografia, Guilherme Marini Perpetua, a temática manteve a mesma linha dos últimos anos. “O tema deste ano foca no exercício da cidadania e inclusão social por parte de um grupo específico e vulnerável - a população idosa - em franco crescimento no Brasil”.
Guilherme ressalta que o tema não surpreendeu muita gente. A questão do envelhecimento da população, em função da transição demográfica em curso no mundo e no Brasil, é conteúdo curricular trabalhado pela Geografia, desde o ensino fundamental até o ensino médio. Então, se o aluno esteve atento às aulas, certamente ele tinha repertório necessário e plenas condições de desenvolver o tema na redação”.
Para o professor de Gramática, Redação e Literatura, Vinícius Victor Venturim, o tema proposto nesta edição do Enem, é extremamente pertinente, considerando a cultura de desvalorização da velhice que ainda permeia a sociedade brasileira. “Apesar disso, muitos alunos relataram surpresa ao se deparar com a proposta. Isso evidencia uma preparação progressivamente mais limitada - grande parte dos estudantes concentra-se apenas em temas considerados ‘chocantes’ ou amplamente discutidos nas redes sociais, e esquece questões estruturais, que fazem parte do cotidiano e permanecem enraizadas no contexto social. Esse é um dos principais motivos para o espanto. O estudante precisa ter uma preparação ampla, contextualizada e que considere diferentes camadas da realidade brasileira”.
Vinícius ressalta que o tema é atual e apresentou diversas camadas argumentativas. Uma delas é a inserção dos idosos em uma sociedade moderna e gradativamente mais tecnológica, uma verdadeira “sociedade dos aplicativos”. “Nesse contexto, evidencia-se a falta de espaço para a população com idade mais avançada, já que o próprio mercado de trabalho passa por transformações digitais constantes. É importante ressaltar que a chegada da velhice não pode ser interpretada como ‘o fim da vida’, mas como uma etapa de amadurecimento e continuidade social”.
O professor de redação diz que a principal “confusão” relatada pelos alunos em relação à temática foi a própria construção do tema. “Desde de 2022, o Enem tem apresentado, no início da proposta, a palavra ‘desafios’, o que direciona o candidato a refletir sobre o viés negativo da problemática. No entanto, na edição deste ano, a redação começou com o termo ‘perspectivas’, o que gerou dúvidas sobre o tipo de problematização a ser desenvolvida. Muitos estudantes ficaram inseguros ao definir se deveriam focar apenas em dificuldade ou ampliar o olhar para possibilidades e caminhos”.
De acordo com o professor Vinícius, de modo geral, os alunos tiveram contato com esse tema ao longo da vida escolar, seja de forma direta ou indireta. “O problema está na inferência: capacidade de relacionar o que já foi aprendido com novas informações e construir um ponto de vista crítico. A sociedade, a história, o cinema, a literatura e diversas produções midiáticas oferecerem repertórios consistentes sobre o envelhecimento. Porém, muitos estudantes, seja por ansiedade, nervosismo ou insegurança, acabam não estabelecendo uma conexão lógica entre o tema e os conhecimentos que acumularam anteriormente”.
Bárbara Vasconcelos Toledo, de 18 anos, de Presidente Prudente, que concluiu o ensino médio e pretende cursar uma faculdade de Jornalismo, disse que, este ano, achou os textos das questões mais curtos. “Em algumas questões o texto estava mais curto, mais direto, em comparação com a prova do último ano, que teve textos muitos longos e tornou as questões ainda mais complexas, dificultando a compreensão”.
Sobre a redação, Bárbara disse não estava esperando esse tema. “Estava com outros temas possíveis na cabeça, como meio ambiente, saúde e alguns outros que vimos mais no dia a dia no cursinho”. A estudante ressalta que havia se preparado para a redação através das aulas no cursinho e também havia assistido alguns filmes e séries que foram válidos para a redação deste ano. “Mesmo não esperando esse tema, consegui usar um bom repertório que tive conhecimento anteriormente. Mas, compreendo a importância de falar sobre as perspectivas do envelhecimento na sociedade brasileira”.
Para o próximo domingo, Bárbara acredita que vai chegar mais tranquila para a prova. “Estou curiosa para saber como será o conteúdo do segundo dia do Enem”.
Já Brenda de Souza Cerazi, de 16 anos, que mora em Santo Anastácio e cursa o 1º ano do ensino médio, teve sua primeira experiência real com o Enem, como treineira. “Fiz para poder ter uma noção melhor para os próximos anos. Na minha perspectiva, a prova não estava impossível, é sim uma prova extensa e cansativa com grandes textos, com algumas questões confusas, entretanto, achei que poderia estar mais difícil”.
A estudante ressaltou que não esperava esse tema na redação. “Me preparei para diversas outras situações, como questões sobre a mulher e minorias, e acabei não focando em outras questões, porém, na hora consegui lembrar de alguns repertórios que se encaixavam, justamente valorizando a importância do tema”.
Para o segundo dia de prova, Brenda espera resolver as questões com calma e tranquilidade. “Espero que dê tudo certo, que eu consiga resolver as questões corretamente, com calma e tranquilidade, sem nervosismo, focando nas palavras-chave para que o tempo corra tranquilamente”.
Fotos: Cedidas

Professor Guilherme Marini Perpetua: “Tema focou no exercício da cidadania e inclusão social”

Professor Vinícius Victor Ventura disse que tema é extremamente pertinente, considerando cultura de desvalorização da velhice que ainda permeia sociedade brasileira

Bábara Vasconcelos Toledo: “Estava com outros temas possíveis na cabeça”

Brenda de Souza Cerazi: “Para o próximo domingo, espero resolver as questões com calma e tranquilidade”