Após cirurgia de 9 horas, siamesas de Piquerobi “respondem bem”, diz hospital

Gêmeas recebem cuidados na UTI Pediátrica do Hospital da Criança, em Ribeirão Preto; serão necessários mais dois procedimentos até separação completa

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 21/11/2022
Horário 16:13
Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
Segunda cirurgia de separação das gêmeas siamesas foi realizada no sábado
Segunda cirurgia de separação das gêmeas siamesas foi realizada no sábado

A segunda cirurgia de separação das siamesas craniópagas Allana e Mariah, moradoras de Piquerobi, ocorreu no sábado, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP). O procedimento, conduzido por cerca de 40 profissionais de diversas áreas, como neurocirurgia pediátrica, cirurgia plástica, pediatria, radiologia, enfermagem e de apoio, durou nove horas.

De acordo com a instituição, as gêmeas estão respondendo bem e seguem para cuidados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Pediátrica do Hospital da Criança, anexo ao Hospital das Clínicas. 

O procedimento foi minuciosamente planejado com exames clínicos, laboratoriais e de imagem de ressonância magnética e tomografia computadorizada, integrados em sistema de realidade virtual, em que os cirurgiões puderam visualizar com óculos especiais a anatomia dos crânios, dos cérebros e os vasos sanguíneos que seriam abordados no ato da cirurgia.

Para a separação completa das siamesas, estão previstas mais duas cirurgias, que devem ocorrer ao longo do primeiro semestre de 2023. A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich.

“Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos, já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam”, explica o professor Hélio Rubens Machado e chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica. “Assim, ele [Goodrich] desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, completa.

A equipe multidisciplinar acompanha as meninas desde 2021, quando ainda estavam na barriga da mãe.

Foto: Arquivo - As gêmeas Allana e Mariah

Altas expectativas

A mãe das gêmeas, Talita Cestari, não esconde a felicidade de ver o progresso dos procedimentos. Segundo ela, as crianças estão tendo uma “recuperação maravilhosa” após “tudo correr bem na cirurgia”. “Já estão conversando, brincando e comendo normalmente”, relata.

Ela afirma que a família está com expectativas grandes para pegá-las no colo separadas. “O tempo está passando rápido e já está bem perto de chegar esse dia esperado”, comenta Talita, que agradece o apoio recebido pela equipe à frente do caso. “Estão cuidando de cada passo das meninas. É como uma família que cuida e está sempre prestando todo o apoio e cuidado. O resultado é uma cirurgia sem explicação e uma recuperação excelente”, pondera.

Foto: Reprodução/Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Talita Cestari, mãe das gêmeas

Primeira etapa

A primeira etapa do procedimento foi realizada em 6 de agosto deste ano. Cerca de 40 profissionais, entre médicos, enfermeiros e pessoal de apoio, participaram da cirurgia, que durou 9h30. Na ocasião, foram seccionadas as veias de parte do cérebro que liga as duas meninas.

Incidência rara

A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.  

No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018 – após cinco procedimentos cirúrgicos – pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. O caso foi acompanhado pelo próprio médico James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020. 

“Nós não podemos deixar de fazer referência ao Goodrich, porque foi a pessoa que mais trabalhou com esse tipo de caso tão complexo, tão difícil e tão raro. Mas ele conseguiu com muita dedicação e viajando pelo mundo inteiro, inclusive vindo várias vezes a Ribeirão Preto para nos ajudar a estabelecer essa técnica”, pontua o professor Hélio.  

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