Autoempatia 

OPINIÃO - Eunice Cruz

Data 20/04/2021
Horário 05:00

Conversando com uma amiga lembrei-me de um acontecimento quando éramos adolescentes. Ela e sua mãe foram fazer uma visita à minha casa e foram recebidas com muita alegria, naquela tarde quente. Para refrescar lhes, fora servido um suco de abacaxi. Em um dado momento, por uma distração, a mãe da minha amiga derramou um pouco de suco no tapete da sala. Ficou toda sem jeito, desculpando-se, mas minha mãe a tranquilizou dizendo: - Não foi nada! Acontece! Depois eu passo um paninho e tudo bem. 
A visita terminou e minha mãe foi retirar os copos da sala. Um deles escapou de sua mão e um pouquinho de suco que havia nele derramou-se no tapete. Minha mãe ficou furiosa e exclamou: - Como sou desastrada! Que descuido imperdoável! Poucos minutos antes sua reação fora totalmente diferente, em relação à mesma situação, quando tranquilizou, desculpou e acolheu sua amiga. Entretanto, consigo mesma foi muito severa e agiu sem o menor respeito e com julgamentos negativos, absolutamente desnecessários.
Essa história mostra claramente o que não é autoempatia. Nos dias atuais, com todo esse rebuliço em nossas vidas, quando muitos estão passando por necessidades e suportando toda a carga de sofrimento que essa pandemia nos traz, certamente você já deve ter ouvido muito sobre empatia.
Empatia é colocar-se no lugar do outro para entender o que ele pensa, vê e sente. Entretanto, precisamos saber que não é possível fazer nada disso com autenticidade e competência, se antes, não formos capazes de praticar a autoempatia.
Muitos passam boa parte da vida sem dar atenção a si mesmos, negligenciando-se a tal ponto que não conseguem mais acessar suas emoções, seus pensamentos, desejos, limites e necessidades. Se diluíram em seus diversos ambientes e envolveram-se tanto com o trabalho, parceiro, filhos, casa, carros e outras coisas secundárias, que  se colocaram em último lugar na lista das suas prioridades. 
Estes precisam imediatamente restaurar a autoempatia, que é olhar para dentro de si mesmo com olhar amoroso, ouvir sua voz com ouvidos atentos e compreensivos, enxugar suas lágrimas com carinho e compreensão, acalentar seus corações quando estiverem acelerados pelas emoções ou sentimentos aflorados e, finalmente, aceitar-se como é, sem julgamentos. 
Compartilho aqui um importante aprendizado que venho adotando há muitos anos com ótimos resultados. 
A primeira coisa a fazer é reconhecer verdadeiramente nossa existência. Reconhecer que existimos, e que precisamos nos amar antes dos outros. É preciso atendermos nossas necessidades físicas, emocionais e espirituais no momento em que elas surgem e depois atender necessidades alheias. Lembra da máscara no avião? Primeiro você!
Outra dica é falar com você mesmo como se fosse seu melhor amigo. Somente quando desenvolvemos uma capacidade de autoescuta absoluta, amando-nos como somos e apesar de nossos defeitos, iremos aperfeiçoar a autoconsciência emocional.
Outro ponto muito importante é o perdão. Perdoe-se hoje, amanhã e sempre. É normal, em algum momento, você sentir raiva de si mesmo por ter cometido erros, por não ter aproveitado oportunidades, por não ter tido coragem para falar o que era preciso, por não tomar alguma decisão. Entretanto, sentimentos de autorrejeição só dificultarão o exercício da autoempatia. O perdão é curador e assim como você perdoa seu semelhante, perdoe-se a si mesmo, sempre.
Também é preciso saber e aceitar, com naturalidade e sem julgamentos, que todos nós somos luz e sombra. Temos o direito de sentir emoções negativas, como raiva, medo, inveja, decepção, ira, ansiedade, preocupação, angústia e outras, principalmente, porque elas não pedem permissão para nos encontrar e muitas delas nem nos permitem disfarçar. Não queira esconder suas sombras no mais profundo do seu ser. Elas precisam ser enfrentadas e vencidas. Portanto, projete sua luz nas suas sombras, encare-as, vença-as e fique bem. 
E, para encerrar, autoempatia implica em autotolerância. Não seja tolerante com todos e carrasco de si mesmo. Estou aprendendo aceitar que as águas do meu oceano às vezes se enfurecem e criam ondas gigantescas, mas nestes momentos sempre procuro lembrar que eu mereço, de minha parte, a mesma tolerância que dispenso aos outros. 
Permitir-se ser quem, verdadeiramente, somos, é a busca por nossa essência. Fingir ser como os demais querem que sejamos ou tentarmos satisfazer as necessidades de todos, antes das nossas, só irá nos distanciar do “ser” que nascemos para ser. 
Seja autoempático. Não se afaste de sua essência e abrace a si mesmo!
 

Publicidade

Veja também