Bom homem e santo cristão:  Agostinho (354–430)

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 19/10/2021
Horário 05:00

Nascido em Tagaste, na época uma província romana no norte da África, criado numa família de classe média que abrigava religiões diferentes. Seu pai, Patrício, funcionário público do Império Romano era pagão e sua mãe, Mônica, era cristã de prática fervorosa e, piedosamente, orava por seu filho. 
A formação de educação básica de Agostinho aconteceu dentro dos padrões das humanidades clássicas, grega e latina. Em Cartago obteve sua graduação superior em retórica. 
Transferido para Roma, Agostinho ensinou retórica. Em seguida, imigrou para Milão, frequentou a Academia e se aprofundou no neoplatonismo, estoicismo e ceticismo. Foi nessa cidade que ocorreu a grande virada na vida de Agostinho. Curioso acerca da popularidade de Ambrósio (340–397), bispo da catedral, Agostinho foi conhecer seus sermões. Ficou impressionado com a oratória do bispo e a excelência de sua linguagem. Encontrou em Ambrósio uma erudição clássica que não imaginava encontrar na igreja cristã. Fora tocado também pela benevolência do pároco que o cativou. O jovem africano que frequentava os cultos apenas pelo prazer de ouvir a prédica deixou-se seduzir pelo conteúdo do evangelho entregando-se à fé cristã.
Na Páscoa do ano seguinte (387), Agostinho foi batizado por Ambrósio na catedral milanesa. Convertido, regressa à Tagaste, vende suas propriedades, distribui seu dinheiro com os pobres e funda um mosteiro numa antiga propriedade da família. Em 391, Agostinho foi ordenado ao sacerdócio, transferiu-se para Hipona levando também o seu mosteiro. Cinco anos depois, em 396, ordenou-se o bispo titular da cidade. Agostinho faleceu em 28 de agosto de 430, pouco tempo depois da invasão bárbara que incendiou a cidade. A Igreja Católica Romana o canonizou por reconhecimento popular e o reconhece como um de seus doutores.
Agostinho defendeu a unidade teológica do Antigo e do Novo Testamento cunhando a célebre frase: O Novo Testamento se encontra latente no Antigo; e o Antigo Testamento se torna patente no Novo.
Em oposição a Pelágio (360–435), Agostinho afirmou a exclusividade da graça divina como fator de salvação. Somente a graça de Deus pode libertar o ser humano do cativeiro do pecado, redimir o seu livre arbítrio e salvá-lo. Graça que, segundo Agostinho, se justifica porque a causa está no gratificador, ou seja: no próprio Deus. Se o motivo estivesse no ser humano ou em suas obras, não seria graça, e sim recompensa ou meritocracia. 
 A posição de Agostinho em relação ao diálogo da teologia com a cultura humana (arte, música, teatro entre outros - religiosa ou laica) é fundamental e preciosa, desde que ocorra de forma crítica e equilibrada. Partia o bispo do pressuposto de que toda verdade e virtude são dons de Deus. Logo, para Agostinho era possível extrair lições valiosas e obter conhecimento e sabedoria, sem perder em momento nenhum a glória a Deus. Toda a produção humana, incluindo trabalho e cultura, eram respostas históricas e criativas da imagem de Deus (Imago Dei), portanto, plenas de sua glória e de sua santificação. Para o cristão, nada é impuro, mas santo! 
Em tempos de reforma protestante, vale a pena visitar seus fundamentos. Com humildade, respeito e tolerância a todas as religiões do país. 
 

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