CHARANGA DOMINGUEIRA de 29/09/2014

Esportes - Flávio Araújo

Data 29/09/2014
Horário 08:45
 

José Siquieri

 

A referência naquela rua era o varal com as camisetas secando-se ao sol. Brancas com uma listra verde no peito. Calções e meias, cada um cuidasse dos seus. As camisas dona Felícia fazia questão de lavar e passar. E eram apenas 11 incluindo a do goleiro. Se houvesse substituição o reserva que aceitasse o suor que vinha junto. Ali, Rua Djalma Dutra, nasceu o primitivo Palmeiras. Mesmo local onde nasceu e viveu um futuro ídolo do nosso futebol: José Siquieri.

Sua raça incomum permitiria no futuro que ganhasse duelos contra ponteiros de respeito. Cito as disputas contra Chuvisco, ágil extrema do Londrina e Guanxuma, veloz e endiabrado que tentou dar-lhe o drible da vaca. Não é preciso dizer que ambos foram se esborrachar no alambrado. Paraguaio, da Apea (Associação Prudentina de Esportes Atléticos), era o maior artilheiro da cidade. Nos famosos dérbis nunca fez gol quando seu marcador era Zé Siquieri.

Até contra o irmão duelou. Toninho, que viria a ser meu cunhado, ficou sempre no Corintinha quando Zé mudou-se para a Prudentina. Quando se enfrentavam o gene que os unia ficava em casa. Siquieri tentou a sorte no Rio, jogou no Taubaté, mas era um fruto genuíno da cidade onde nasceu e mostrou valor. Foi como zagueiro que começou no citado Palmeiras, de juvenis.

Prudentinos da velha guarda vão se lembrar de um time que tinha Luizinho, goleiro, seu irmão Alberto, da família que fundou o Colégio Braga Mello, Nilson Vitale, Pascoal, Geléia, Simão, Brás Medina, Batista, Zé Valadares, Ninim Peretti e tantos bons valores que nasciam para o futebol sem que houvesse divisões de base ou instrutores especializados.

O grande feito do nosso homenageado foi ter marcado tão bem a Pelé quando o Santos empatou com a Prudentina (2 a 2) na volta da Copa do Mundo de 1958, mas seu troféu mais brilhante não foi no futebol. Era o maior pescador da região. Jaús de 100 kg (quilos) do Paranazão tremiam quando ele se aproximava. De suas pescarias na vida ficam agora as saudades dos muitos amigos que fez e dos familiares que tanto amava, como Noêmia, a esposa, irmã de Vicente, o grande lateral da Prudentina, Isabel e Siquierinho, o filho que foi um bom zagueiro e chegou a morar em minha casa em São Paulo e na do Chico de Assis em Poços quando sonhava com o futebol e não fora ainda fisgado pela publicidade.

O Zé Siquieri, que agora se foi, é bem o símbolo popular do que de melhor Prudente produziu em seus quase 100 anos. Outros tempos, outros homens. Todos, porém, unidos pelo amor acendrado à cidade que os viu nascer, crescer e partir. Como manda a lei.

 

 

Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço
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