Claudio, o Profeta

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 13/12/2025
Horário 04:30

Bem, a peculiar história que tenho a contar, pode parecer inverossímil, dada a absurdidade dos fatos a serem narrados. Entretanto, devo dizer, de antemão, que a mesma se baseia em fatos reais, tidos há décadas atrás, na pequena Ribeirão dos Índios, terra natal de Claudio, que mais tarde veio a ficar conhecido como Claudio, o Profeta. Os acontecimentos, singelos, dizem respeito ao fato de que Claudio alegava conhecer, desde criança pequena, a data de seu falecimento, que ocorreria exatamente no dia 5 de outubro de 1988. 
Segundo Claudio, a informação lhe chegara à mente por meio de um sonho, tido quando completara 10 anos de idade, ocasião em que um espírito, dizia, de parente desconhecido, lhe repassou a instrução, sem muitas delongas. Claudio considerou a informação valiosíssima e sem dúvida nenhuma acreditou nela, pois passou a ter, desde então, um comportamento de extrema coragem ou de racional displicência com sua própria segurança. Arriscava-se, constantemente, certo de que sua vida estaria preservada pelos próximos 50 anos. 
Evidentemente, poucos acreditavam em sua profecia, de modo que viam seu comportamento como a de um louco. De início, a descrença coletiva não o afetava, antes disso, considerava-se um homem privilegiado, dotado de um conhecimento secreto que o tornava especial, o único a saber a data da sua morte, incerta para todos. Apesar de ter se tornado um homem, certamente, destemido, o fato é que Claudio vivia uma vida pacata, embora de plena vivacidade, à espera do último dia. 
Sua história, compartilhada com todos na pequena cidade se espalhara, e com 20 e poucos anos, pessoas passaram a procurá-lo em situações em que um parente ou amigo encontrava-se, como então se dizia, à hora da morte. No geral, perguntavam a Claudio a data da derradeira partida do moribundo. Nessas ocasiões, Claudio encabulava-se, mas fechava os olhos, fingia-se em transe, pensava por alguns minutos para então dizer, “é pra logo” e “é melhor se prepararem”. O povo, de muita simplicidade, tomava com grande reverência as palavras de Claudio e como acontecia, muito geralmente, do doente vir a óbito, como sempre acontece nessas ocasiões, a fama de Claudio se espalhara e com pouco tempo tornara-se Claudio, o Profeta. 
No início do mês de outubro de 1988, Claudio iniciara seus preparativos. Cuidou de resolver seus negócios, despediu-se de amigos distantes, abraçou os mais próximos, aproveitou com gosto as últimas refeições, regadas a bons pratos e boas cachaças. Na noite anterior ao fatídico dia, teve, como era de se esperar, dificuldade para dormir e uma insônia incomum. Não dormira. Levantou cedo, às 5h da manhã, passou café, comeu duas fatias de pão caseiro, pitou seu fumo de corda e sentou-se no sofá da sala, à espera. A esposa acordou, e chorando, ao pé da porta, apenas observava Claudio, sem dizer palavra. 
O Profeta ficou na mesma posição o dia todo. Parecia calmo, mas o fato é que estava tomado pelo completo pânico, a ponto de não se mexer. Não almoçou, não bebeu água, não pitou. Parentes, vizinhos e alguns curiosos faziam vigília do lado de fora. “Não morrerei assim, sentado” pensava o Profeta. Às cinco da tarde, levantou-se para ir ao banheiro. Ao cruzar o batente da porta da sala, o pesado relógio de madeira, pendurado no limiar da porta, desprendeu-se da parede e atingiu em cheio a cabeça de Claudio, o Profeta, que morreu, ali mesmo, naquele dia. 
 

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