Comandante Pedro Pires

António Montenegro Fiúza

Alguns actos são apenas símbolos, representações de sentimentos muito profundos e marcantes; o acto de atribuir o título de Doutor Honoris Causa ao Comandante Pedro Verona Pires foi apenas um símbolo, representação vaga da gratidão, do reconhecimento pelo magnífico trabalho feito, na construção de um país, no estabelecimento e no fortalecimento de laços entre países irmãos, unidos por laços de sangue, de história e de futuro.
Para se chegar ao título Doutor Honoris Causa não bastam estudos acadêmicos, profundos e teóricos; não são necessárias teorias e teoremas – uma causa nobre é um objetivo de vida, um lutar constante, uma busca incessante por algo que ainda não existe, mas que se vislumbra ao longe e pelo qual, muito trabalho árduo há ainda por fazer.
Comandante Pedro Verona Pires, um homem simples, conhecedor das necessidades do seu povo, um humanista que cedo entendeu o significado da compaixão por pessoas que, como ele, lutavam pela sobrevivência em ilhas esquecidas por um tempo, que já passou.
Com tenra idade, pode acompanhar o desenrolar de duas grandes fomes no país, o êxodo para São Tomé e todos os dramas humanos decorrentes desses fenômenos – dramas que ultrapassam os aspectos físicos da subsistência, mas tocam os princípios e valores humanos, põem em questão as bases mais sólidas do ser, os seus direitos fundamentais, a sua capacidade de resposta e demonstram a sua impotência, perante forças naturais e conjunturas sociais.
Essa íntima compaixão, esse sentido de justiça e solidariedade, esse identificar-se com um futuro, ainda por construir, mas que se demonstra ser o recurso natural mais expressivo de Cabo Verde, foram as bases lançadas para que nele crescesse o espírito de luta, de abnegação e uma força de vontade tremendas, que conduziram à sua participação na luta pela independência de Cabo Verde, na estruturação de uma identidade nacional baseada no capital, na educação e na inovação; e que deram mostras sólidas no processo de abertura ao multipartidarismo.
Hoje, vivemos num Cabo Verde muito diferente daquele que existia na década de 60, quando Pedro Pires começou a sua cruzada. Hoje vivemos num país, que é fruto de um trabalho, não individual, mas de forte liderança – um país que, embora esteja (ainda) em construção, demonstra as bases sólidas em que se assentaram as suas raízes.
Nesse país, de raízes históricas e culturais muito bem preservadas, trabalha-se diariamente para um crescimento rápido e equilibrado; nesse país, constrói-se futuro.
«A maior necessidade do mundo é a de homens - homens que não se compram nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o erro pelo seu nome; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é recto, ainda que aconteça tudo errado.» 1
Esta frase define, muito bem, o carácter do Doutor Honoris Causa Comandante Pedro Verona Pires.
O Comandante Pedro Pires, à semelhança de Amílcar Cabral, sempre defendeu a educação como um dos mais fortes pilares para a construção sustentável de um país, o ideal é formar homens e mulheres capazes de, com trabalho árduo e honesto, construir uma nova realidade, lançar as bases para um desenvolvimento constante, estável e fecundo.
E não podemos deixar de, como foi dito no início deste artigo de opinião, demonstrar a nossa gratidão, a nossa homenagem aos que começaram esse trabalho. Através de gestos simples, nobres e enobrecedores.

1 Ellen G. White
 

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