Confissões de um sofá

Caminhando pelas ruas, olhando as paisagens, encontro quase sempre um belo presente da natureza, como árvores floridas e dias ensolarados, parques verdes e uma cidade aparentemente limpa. Observo, em meio a toda essa beleza, algo que se repete em minhas andanças. O encontro com sofás totalmente abandonados nas calçadas, grandes avenidas, terrenos baldios, boiando nos rios, próximos aos bueiros e aeroportos, etc.

Certa vez, resolvi perguntar para o sofá, por que estava ali ao relento? Foi quando o “sofá” pediu para ouvi-lo um pouco. Disse: Desculpas pelo pó, umidade e ranhuras, estou há meses aqui. Sentei-me, como pediu e pus-me a ouvi-lo.

Ele narrou então sua história. “Sabe, fazia muito tempo que não sentia o calor humano. Lembrei-me da minha casa. Vivia para servir meus donos. Vi formar minha família. Eram dois jovens que se casaram. Lembro bem do dia em que os conheci. Ela disse: É aquele, apontando para mim. Adorei. E assim fui morar com eles. Daí tiveram filhos. Ajudei a amamentar com a minha maciez. Confortável, era disputado pelas crianças. Vivi muitas experiências e fui por muito tempo, cúmplice de todos. Fui fiel escudeiro por muito tempo. Mas fui envelhecendo, esgarçando, e sem serventia. Foi quando ouvi que estava feio e démodé. Fingi desconhecer o significado e ação sobre o que desencadearia tudo aquilo. Pois não tardou, jogaram-me para fora. Literalmente para fora da casa deles, esquecendo que aqui fora é a casa de todos nós. O ser humano faz isso, trata bem quando precisa e tem utilidade. Quando já não lhe serve, descarta para o lixo. Penso que, o descartável tem serventia, podendo transformar-se. O que mais temia era ficar desamparado e ser jogado ao ar livre na nossa mãe terra. Ela não é lixo. É necessário preservar o meio ambiente. Ele pertence a todos. Jogar-me aqui nessa esquina, está me incomodando. Estou exposto e impotente, sentindo-me nu. Acabei ficando confuso sobre o lixo. Ele está fora ou dentro da gente. Quem é lixo? E o que é lixo?”.

Compenetrada, lamentei e, em silêncio, continuei a ouvi-lo. E ele continuou dizendo: “Penso que, todos aqueles que jogam seus lixos, com descaso ou irresponsabilidade, na nossa mãe terra, tem todo o seu mundo interno tomado pelo lixo. Ele é o próprio lixo. Polui o meio ambiente, obstruindo bueiros e provocando inundações. Temos direitos e deveres para com a proteção do ecossistema. Lá dentro da casa dele, pode ser feito o que bem entende, mas aqui fora é de todos. Somando todos os lixos que cada um tem dentro de si, é evidente que o resultado acaba desencadeando potentes vírus, podendo dizimar uma nação. É responsabilidade de todos preservarem nosso planeta. Gratidão por ouvir-me”.

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