Cora Coralina

António Montenegro Fiúza

«A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando. (…)»
Assim Eu Vejo a Vida, primeira parte, Cora Coralina

Ela ocupa um dos lugares cimeiros da literatura brasileira, dulcificando a escrita com meiguice simples e construtiva, motivadora até; num misto de aceitação da realidade e força para alterá-la. O seu primeiro livro publicado viu a luz em 1965, 20 anos antes do seu passamento físico, mas os seus ditos e escritos continuam presentes até ao dia de hoje, com ampla concordância e engajamento nos meios digitais.

Ícone da força e da resiliência femininas, da autoafirmação, é ela: Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina, uma mulher simples, cuja vida fora toda ela passada no ambiente rural de Goiás, mas cuja sabedoria e erudição não reconhecem fronteiras. Poetizou sobre as coisas corriqueiras e triviais do quotidiano, ensinou a viver e a fazê-lo de forma plena e abundante e, nas suas próprias palavras «fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.» 

As suas primeiras letras foram publicadas na “Folha do Sul”, semanário de Bela Vista – Goiânia, quando contava ainda com apenas 14 primaveras. Publica contos, crônicas e poemas e, inclusive, um LP  com a declamação de alguns dos seus escritos líricos. 

O poder das suas palavras não reside na eloquência das mesmas, na utilização de termos difíceis ou no muito recurso ao dicionário, mas antes à profundidade das mesmas, à humanidade perene e holística… a qual toca a todos, nos quais pulsa um coração.

Reconhecida nacional e internacionalmente, recebeu o grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal de Goiás, em 1983, embora só contasse com quatro anos de escolaridade formal, a sua mente de intelecto prodigioso, demonstrou todo o mérito dessa consagração. E, para comprová-lo, nesse mesmo ano, fora eleita intelectual do ano. 

Assim se compõe o mosaico da literatura lusófona, de pessoas que ultrapassaram as vicissitudes da sua realidade e souberam elevar-se a níveis mais altos de desempenho, alçando com elas a língua que nos une. 

«(…) Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.»
Assim Eu Vejo a Vida, última parte, Cora Coralina
 

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