De banho de ervas a louro na carteira: veja algumas simpatias para a virada

O Imparcial conversou com algumas pessoas sobre as superstições para trazer boas energias para 2022; psicólogo fala sobre aspecto mental destas tradições 

VARIEDADES - CAIO GERVAZONI

Data 31/12/2021
Horário 06:05
Foto: Cedida/David de Airá
Leque de mantras é grande; banho de ervas para limpar as energias negativas
Leque de mantras é grande; banho de ervas para limpar as energias negativas

As simpatias, rituais e superstições no intuito de trazer boas energias, paz, prosperidade e saúde para o novo ciclo que se inicia com a passagem do ano são tradições comuns na cultura popular brasileira. O leque de mantras é grande e vai do banho de ervas, uso de alguma tonalidade específica de traje a guardar folhas de louro na carteira ao consumo de algum alimento específico, como no caso da lentilha. 
O babalorixá da comunidade religiosa Ilê Axé Airá, Pai David de Airá, revela que possui algumas simpatias e costuma indicar as receitas para familiares, amigos e adeptos do candomblé. “Aqui em casa costumo fazer o banho de cheiro, muito tradicional na Bahia. É um banho interessante e para começar o ano bem energizado”, pontua Daivid. Ele explica que o banho é composto por folhas, flores e perfume de alfazema ou de lavanda. Pode-se usar folhas de alecrim, manjericão, hortelã, sálvia, flores brancas ou amarelas. Conforme indica o pai de santo, a pessoa deve misturartudo em água fria, colocar o perfume e tomar o banho minutos antes da virada. 
“Ah, tem o potinho da prosperidade também”, relata o babalorixá sobre outra simpatia que costuma fazer. “A pessoas pega uma bomboniere de vidro e coloca seis porções de seis grãos, coloca uma camadinha de cada até terminar e vai pedindo prosperidade para o ano novo, ao final, coloca-se seis moedas e seis folhas de louro”, explica Deivid, que complementa que 2022, na cultura popular, é um ano 6 na somatória dos números e que isto se refere, segundo ele, à prosperidade, às bênçãos e coisas boas.
A folha de louro está presente também na superstição que a lojista Ilza Cacciotore costuma fazer para a virada. “A única simpatia que tenho é a da folha de louro. Coloco uma folha verdinha na carteira para ter dinheiro o ano inteiro. Olha, faz mais de anos que faço e funciona mesmo”, explica. 
Já para o representante comercial, Ademir Pereira, a tradição da família na véspera do ano novo é comer pé de porco. “Desde pequeninho na ceia da Virada o costume é comer carne de porco. Meu irmão adorava pé de galinha e reclamava com minha mãe que não tinha carne de frango na refeição da virada de ano e ela sempre falava para ele: “Filho, no Natal pode comer frango, mas não no ano-novo porque galinha cisca para trás e a gente tem que comer carne de porco, que sempre vai para frente”, narra Ademir. 

Mais rituais

Quem indica mais alguns rituais é o pai de santo e juremeiro, Ângelo deOdé. Ele relata que tem o hábito de colocar 12 romãs na mesa até o dia de Santos Reis, em 6 de janeiro. “Na ceia colocamos peixe para referenciar fartura para o próximo ano. O uso de branco também é uma tradição. Com o fruto romã, que é dedicado ao orixá Xangô, deixamos 12 deles na mesa até o dia de Reis no intuito de, no sincretismo com o catolicismo, pedir que a prosperidade de Xangô e dos três reis magos fique em nossa companhia durante o ciclo que se inicia”, explica Ângelo.  

Da perspectiva da psicologia

O psicólogo Edson Marcelo Oliveira Silva explica que a superstição na psicologia moderna pode ser entendida por diversos prismas. Para falar sobre o tema e do papel simbólico dessas superstições na vida das pessoas, ele se orienta a partir da obra do austríaco Sigmund Freud, conhecido como o pai da psicanálise. “Pela psicanálise, Freud escreveu duas grandes obras que podem nos auxiliar pra entendermos isso e o que nomeamos como simbolismo”, relata o psicólogo em referência às obras “Totem e Tabu” e “O Futuro de uma Ilusão” escritas por Freud nas primeiras décadas do século passado. 
Sucintamente, segundo Edson, estas duas obras tratam sobre o sistema psíquico de crenças e leis mentais que nós seres humanos criamos para lidarmos com a realidade. “Isso traz efeitos na nossa subjetividade e sociedade pois ‘acreditar em algo’ implica em eleger um saber e se comportar de acordo com esse saber”, argumenta. De acordo com psicólogo, a partir do entendimento de Freud, o ser humano se identifica pelos traços do que é primitivo, buscando um semelhante no mundo. “Freud quando escreveu sobre Totem e Tabu, analisou o sistema do que chamou de Totemismo entre os aborígenes australianos, considerando que toda tribo possui um totem, e aqui se faz a primeira distinção dos humanos enquanto seres da crença”, expõem Edson. Por fim, o psicólogo indica que as interpretações de Freud, nas obras acima citadas, “nos permitem pensar não só na dimensão das religiões e suas dimensões psíquicas, mas a própria vida que concebemos hoje na sociedade moderna capitalista que temos”, completa. 

 


 

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