Diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para evitar complicações, aponta infectologista

Médico André Pirajá, responsável pelos cuidados com o jornalista Maycon Morano, explica particularidades da leishmaniose e orienta sobre cuidados

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 23/07/2025
Horário 04:03
Foto: Arquivo
André Pirajá: “É muito importante que os donos tenham cuidado com seus cachorros”
André Pirajá: “É muito importante que os donos tenham cuidado com seus cachorros”

Médico responsável pelo diagnóstico de leishmaniose do jornalista Maycon Morano, 38 anos, o infectologista André Pirajá ressalta que identificar a doença precocemente é fundamental, já que ela, quando não tratada a tempo, é potencialmente fatal. Ele explica que o tratamento foi prolongado por, felizmente, Maycon não ter preenchido critérios de gravidade. Assim sendo, o morador de Presidente Prudente passou a receber uma medicação fornecida pelo Estado, a Glucantime, que são sais de antimônios, que foram aplicados via intravenosa, por quatro semanas. 

“Por isso, o tempo prolongado de internação. Embora possa ser feito via intramuscular, não é recomendável, justamente pelo efeito adverso que essa medicação pode ocasionar, como arritmia cardíaca, hepatotoxicidade [lesão hepática]... Então, é bastante complexo nesse sentido o tratamento da leishmaniose. Mas, graças a Deus, com o Maycon, deu tudo certo”, comemora o médico.

André explica que, no caso de Maycon, porém, o diagnóstico foi difícil. “Ele vinha sendo tratado diversas vezes como dengue, pelos sintomas similares, e nós estamos numa região de alta endemia de dengue e também de leishmaniose visceral. E o diagnóstico inicial foi muito próximo. Ele começou com febre, só que a febre persistiu mais de sete dias, o que não ocorre com a dengue. Ele também começou a cursar com hepatomegalia, esplenomegalia, do fígado e do baço”, detalha.

Segundo o infectologista, uma série de outras doenças causam hepatomegalia, como endocardite, toxoplasmose e citomegalovírus, Epstein-Barr vírus até o HIV. “Então, nessa fase mais aguda é um pouco mais complexo. E aí é ficar no raciocínio clínico, pensando na epidemiologia, atentos na prevalência da doença, o que é muito importante para fazermos a sorologia para leishmaniose e pensarmos, assim, no diagnóstico”, revela André.

Fato considerado como interessante pelo médico foi Maycon apresentar uma melhora durante a investigação. “Ele parou de fazer febre, o que é um dado muito comum na doença, em um paciente imunocompetente, jovem, sadio, o organismo ‘esconde’ a leishmaniose, suprime esse protozoário, mas ele fica reproduzindo lentamente e, se não tratado nesse momento, ele cursa lá na frente, com questão de meses ou anos, com a síndrome mais grave da leishmaniose, que abre com o fígado grande, com o baço grande, com sangramentos pela queda de plaquetas, pelas infeções secundárias. Então, é muito importante fazer o diagnóstico precoce e o tratamento”, reforça.

Doença

A leishmaniose, de acordo com o infectologista, é uma zoonose, ou seja, uma doença de animais que acomete seres humanos. É causada por um protozoário, a leishmania, que normalmente infecta os primatas, na sua forma selvagem, e tem a raposa como o hospedeiro intermediário. No caso da leishmaniose urbana, por semelhança de genética, o homem fica no lugar do primata, e o cachorro no lugar da raposa, esclarece o médico. 

“Então, o protozoário se desenvolve nesse animal, no caso, o cachorro. Esse animal é picado pelo mosquito-palha e, através da noculação do mosquito-palha no ser humano, a picada, assim nós adquirimos a leishmania”, indica. A doença pode se desenvolver sobre duas formas: a visceral, geralmente mais grave, que acomete os órgãos, e a tegumentar, também chamada de cutânea mucosa, que acomete pele e mucosas. 

“A manifestação clínica da doença na forma cutânea mucosa é clássica. Tem uma apresentação bem típica na lesão de pele. Então, visto isso a gente vai diagnosticar e confirmar com biópsia, com a presença do protozoário na lesão de pele”, expõe. “A forma visceral já é um pouco mais complexa. A sua apresentação clínica pode cursar desde sintomas gripais inespecíficos até o quadro clínico exuberante, que ocorre o aumento do fígado, do baço, chamado hepatomegalia, sangramentos e infeções secundárias, porque ela ‘destrói’, ‘ataca’ a medula e diminui as células de produção de defesa do organismo”, complementa.

Prevenção

Ações preventivas para evitar a contaminação pela doença, que foi trazida à zona urbana pelo próprio homem, que passou a ocupar as matas, são apontadas pelo médico. Ele cita que não existe vacina contra a leishmaniose para o ser humano, mas existe para o animal. Esta, no entanto, está atualmente suspensa no país. 

“O diagnóstico do cachorro deve ser de forma precoce. Hoje, não necessariamente, o animal tem que ser sacrificado, pois existe um tratamento. É caro, então, é muito importante que os donos tenham cuidado com seus cachorros”, ressalta. “E, o mais importante, é evitar criadouro do mosquito-palha. Diferente do Aedes aegypti, da dengue, que é de água parada, o mosquito-palha fica nas calhas, por exemplo, que ficam nos telhados que vão acumulando materiais de decomposição. Esse é o local ideal para o mosquito fazer o seu desenvolvimento e, assim, fazer a sua proliferação e transmissão. Então, é muito importante ter esse controle vetorial do mosquito e o controle dos animais”, orienta André.

Leia mais:

“Estou ótimo por já estar na ativa”, celebra jornalista de Prudente após tratamento contra leishmaniose 

Publicidade

Veja também