Educar com fome

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 28/11/2017
Horário 10:33

Para muitas crianças que saem de casa sem o almoço, a merenda escolar é a única refeição do dia. Esta situação foi evidenciada através daquela criança de 8 anos que desmaiou de fome numa escola no Distrito Federal. Ofereciam apenas suco e bolacha, ao invés do cardápio exigido pelo Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Segundo especialistas, esta situação se repete em muitas outras escolas pelo país.

Segundo o Correio Braziliense, a família desta criança vive com R$ 946 mensais. São aproximadamente dez pessoas, num imóvel de 46 metros quadrados, e os irmãos menores estão sem creche. A aflição desta família deixa claro que as políticas de transporte, alimentação e habitação precisam ser revistas no Distrito Federal e, provavelmente, em muitas outras cidades pelo país. Ante esta situação está a falta de fiscalização na aplicação do dinheiro da merenda escolar. São mais de R$ 4 bilhões anuais que deveriam ser revertidos em refeições de qualidade.

Em 2017, a CGU (Controladoria Geral da União) identificou diversas falhas no controle da aplicação do dinheiro da merenda escolar e quadrilhas especializadas no desvio do dinheiro público. Para se ter ideia, há diversas prestações de contas de Estados e municípios sem análises. O resultado nós já conhecemos: merenda fraca e cara.

A diretora de creche Patricia Matias Almeida, de Palmas (TO), e a professora Roberta Rodrigues Pereira, de Campina Grande (PB), em entrevista ao Jornal Hoje do dia 23 de novembro, relatam a sensação de impotência diante destes fatos. Contam sobre a frequência com que professores e funcionários, sensibilizados com a situação, fazem “vaquinha” para comprar algo para atender os olhares famintos das crianças.

Todos nós podemos ajudar! Ao perceber que há algo de errado na aplicação dos recursos destinados à merenda escolar, o cidadão pode procurar o Ministério Público mais próximo para registrar a denúncia. Esta é sigilosa e pode ser feita na sede mais próxima do Ministério Público, ou pela internet. Por exemplo, no Estado de São Paulo a denúncia pode ser feita no endereço “mpsp.mp.br”.

Felizmente há exceções. Resido em Martinópolis, Estado de São Paulo, onde minha esposa é educadora há mais de dez anos no munícipio. Os relatos que ouço dela quanto à merenda escolar são os melhores. Refeições diversificadas e de qualidade, com porções de frutas e legumes. Bem diferente das escolas noticiadas! Educar com fome corrobora para alunos desinteressados e uma nação cada vez mais subdesenvolvida.

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