O início de 2023 foi um balde de água fria para as exportações de carne bovina no Brasil. Um embargo provocado pela confirmação de casos atípicos do Mal da Vaca Louca em Marabá, no Pará, acarretou na paralisação das remessas enviadas para a China, principal destino desta categoria de proteínas, e a consequente queda no volume embarcado durante o primeiro semestre.
Além disso, de acordo com a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), a queda nas exportações durante o período foi impulsionada pela baixa de 20% nos preços médios, que diminuíram de US$ 5.740 por tonelada para US$ 4.585.
Mesmo diante deste cenário repleto de obstáculos, ainda é de se esperar uma reação do mercado brasileiro, com possibilidades para que um desempenho satisfatório seja registrado no setor até o fim do ano.
Este panorama pode ser comprovado tendo em vista que, apesar das dificuldades enfrentadas nos primeiros cinco meses do ano, o país conseguiu concluir a exportação de 840,4 mil toneladas durante o período, o que representa uma baixa de apenas 8% em comparação ao mesmo período de 2022, que foi recorde.
Além disso, tradicionalmente, o segundo semestre oferece mais oportunidades de vendas para a exportação da carne bovina. Um dos principais motivos é a celebração dos feriados por todo o mundo, como a Golden Week na China, uma das principais festas do país que ocorre em outubro e costuma impulsionar a demanda por carne bovina chinesa.
Outro fator que deve favorecer o crescimento das exportações brasileiras é a diminuição da oferta de carne bovina em países concorrentes no mercado internacional, como Estados Unidos e Argentina. Os EUA, nosso principal concorrente nas exportações, apresentou uma queda de 3% no rebanho de bovinos durante o mês de julho, indicando desaceleração para todos os segmentos bovinos.
Mesmo que uma evolução no volume embarcado esteja em xeque atualmente, as expectativas de instituições internacionais do agro continuam apontando para tal cenário. Projeção publicada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em julho afirmou que as exportações de carne bovina brasileira em 2023 alcançaram 3,05 milhões de toneladas, valor 1% maior em relação ao prognóstico inicial do ano, que indicava um crescimento de 3,5% no comparativo a 2022.
Em suma, mesmo que obstáculos tenham inibido o crescimento do setor no primeiro semestre deste ano, a capacidade de adaptação da indústria de carne bovina do Brasil e as perspectivas de demanda crescente em mercados-chave sugerem que há espaço para uma recuperação sólida até o fim do ano, possibilitando mais um desempenho anual positivo nos embarques da proteína bovina.
Fabrizzio Capucci, diretor comercial da Naturfrig Alimentos