Entrega em domicílio

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor das cataratas e contra a catarata

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 27/02/2024
Horário 05:30

Seu Durvalino trabalhava feito um condenado em seu sitio de terra roxa, cujo alqueire vale uma fortuna, e lá plantava de tudo. Um fofoqueiro, depois processado pelo sitiante, insinuava que Durvalino plantava até aquele arbusto alucinógeno na beira do córrego.
Das folhas secas desse arbusto - todos sabem -, faz-se aquele cigarrinho chamado de baseado, que, segundo as más línguas, imunizou o Keith Richards contra a dengue e outras doenças causadas pelo Aedes aegypti. O mosquito picou o roqueiro e quem morreu foi o mosquito.
Mas isso é apenas brincadeira e voltemos a falar do seu Durvalino, que é o que interessa neste papo. Repito que ele plantava de tudo e era isso mesmo. Aliás, era uma época em que o Brasil ainda não tinha virado um imenso canavial. Lavradores plantavam roças diversificadas para alimentar a família até porque ninguém almoça ou janta cana.
Durvalino tinha arrozal, algodoal, cafezal, milharal e outros "als" de subsistência. Além de agricultor, ele também era pecuarista. Tinha um gado meio vira-lata, incluindo umas vaquinhas que lhe garantiam uma produção modesta de leite.
Tinha também a égua Malhadinha, que já estava mais cansada do que o marcador do Messi de tanto puxar arado. E ainda por cima a égua, depois do trabalho na roça, levava  Durvalino para tomar cachaça num boteco de beira de estrada.
Quando dava coisa de cinco da tarde, ele encerrava a labuta agropecuária, arreava a Malhadinha e se mandava pro boteco. A égua conhecia o caminho da roça e, no meio do caminho, passava uma rodovia movimentada.
Para chegar ao templo da pinga, Malhadinha precisava cruzar a estrada. Na ida, tudo bem: Durvalino, sóbrio, comandava a égua com a rédea. Ela parava no acostamento e esperava o momento certo para atravessar.
Ao chegar ao boteco, o sitiante pedia logo uma dose dupla de cachaça de alambique. Por volta das nove da noite ele já estava mais bêbado do que o personagem do Frank Sinatra, o ótimo comediante e cantor Joe E. Lewis, no filme “Chorei Por Você”. Tomava a saideira e voltava para casa. Não conseguia montar na égua, mas os amigos o ajudavam.
Depois, alguém dava um tapa na anca da Malhadinha e isso era o sinal para a égua, sem qualquer comando, levar o cavaleiro para casa. Durvalino mal se segurava em cima da égua e, para não cair, disseram que suas mãos eram amarradas na sela. 
No cruzamento, Malhadinha parava e parecia ficar atenta. Só atravessava a rodovia quando não ouvia ruído de motores. Afastado o perigo, a égua entregava o dono em domicílio são e salvo. Ele só não estava a salvo da bronca da mulher, que o retirava do arreio, pois não conseguia apear sozinho.

DROPS 

EE.UU aviso: não Blinken com o nosso secretário de Estado, pois a "blinkadeira" pode ser perigosa.

Estava mais por fora do que dente de morsa.

Riaj ainda não desencarnou do cargo. Chamem o pai de santo.

Os idiotas já dominam o mundo não pela qualidade, mas pela quantidade.
(Nelson Rodrigues)
 

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