Entre outubro de 2024 e o mesmo mês de 2025, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) registrou 1.684 ocorrências de entupimento na rede de esgoto de Presidente Prudente. O número, por si só alarmante, ganha contornos ainda mais preocupantes quando se observa a dimensão física do problema: 640 toneladas de resíduos — entre lixo e areia — retiradas das tubulações ao longo de um ano.
Esses dados não apenas escancaram um desafio operacional para a companhia, mas expõem uma realidade incômoda: grande parte dos transtornos enfrentados no sistema de esgotamento sanitário nasce dentro das próprias casas, com práticas cotidianas que, somadas, provocam impactos coletivos profundos.
Entre as principais causas dos entupimentos estão duas ações que, apesar de amplamente conhecidas como inadequadas, continuam sendo praticadas:
1. Ligações irregulares de água da chuva diretamente na rede de esgoto, sobrecarregando um sistema que não foi projetado para receber grande volume de águas pluviais;
2. O descarte incorreto de resíduos sólidos, como óleo de cozinha, papel higiênico, preservativos, fraldas, cotonetes, tecidos e uma série de materiais que jamais deveriam seguir pelo ralo ou vaso sanitário.
Cada item descartado de maneira irresponsável representa um dano em cadeia. Tubulações entupidas aumentam o risco de refluxo de esgoto nas residências, rompimentos de rede, vazamentos nas vias públicas e, em última instância, prejuízos ambientais que atingem cursos d’água e solo urbano. A consequência social também é clara: serviços interrompidos, ruas danificadas e custos que recaem sobre toda a população, seja em tarifas, seja em tributos destinados à manutenção emergencial do sistema.
A solução passa, necessariamente, por duas frentes: educação e fiscalização. A primeira precisa ser reforçada em campanhas permanentes, que dialoguem com moradores de todas as idades e níveis de escolaridade. A segunda deve ser intensificada para coibir ligações clandestinas e aplicar sanções quando necessário.
Presidente Prudente tem o desafio — e a oportunidade — de transformar o debate sobre saneamento em uma pauta de responsabilidade compartilhada. Se cada morador fizer sua parte, o número de ocorrências certamente despencará, reduzindo custos, evitando danos ambientais e garantindo um sistema mais eficiente para todos.
No fim, o esgoto que entope não é apenas um problema técnico. É, sobretudo, um espelho: reflete o cuidado — ou a falta dele — que a comunidade tem com a própria cidade.