Foi assim: eu tinha acabado de chegar da missa de Natal e faltavam umas duas horas para dar meia-noite. Estava meio que anestesiado pela demora que foi a celebração, mas especialmente porque com 9 anos de idade o sono já batia forte.
Daí fui para meu quarto e me joguei na cama do lençol do He-Man. Lembra dele? Do Esqueleto, Gato Guerreiro? Se não lembra você não sabe o que é um super-herói.
Enfim, dei uma cochilada e de repente acordei com um barulho de sino. Mas não era sino grande e sim daqueles pequenos, bem ritmado, pertinho de mim. Levantei a cabeça e olhei para a janela que estava aberta e dava para o corredor dos fundos e também para o muro que separava minha casa de um terreno baldio.
Meio com medo eu fui até lá e ao me apoiar na janela eu o vi. Sério. Tinha uma barba branquinha, quase um algodão e uma pele tipo a minha assim, bem rosinha. Não era gordo, não. Era até atlético. Ele estava já com uma das pernas jogada para o outro lado do muro e com a outra tentava terminar de pular.
Ele olhou para mim, mas confesso que foi bem diferente do que eu esperava. Sempre achei que se encontrasse o Papai Noel ele abriria o sorriso e diria “Ho-Ho-Ho, está aqui seu presente”.
Mas não, ele disse só assim: “Poutz!”
E eu: “Poutz”?
Eu esperei a vida inteira pelo Papai Noel e ele disse “Poutz”.
Só que aí eu também não fiquei muito para ver onde aquilo iria dar.
Imagine que já estava assustado demais.
Saí correndo e fui chamar meus pais para dizer que tinha visto o bom velhinho. Achei minha mãe e contei para ela, que por sua vez estava cheia de coisas para fazer na ceia e nem deu bola.
Meu pai eu não achei. Saí pela casa toda e não achei... Epa!! Será?
Não, não era possível porque meu pai tinha um probleminha na perna e não daria conta de pular aquele muro.
Mas eu encontrei meu irmão e aí, mano, esqueci a realidade e o lance era que eu tinha visto o Papai Noel e ele não. Ele que lutasse agora para ter seu momento porque eu tive o meu. Tudo bem que ele disse que ano passado já tinha visto o bom velhinho, mas nem dei bola. Agora a parada era minha.
Na verdade, meus amigos leitores, nem sei mesmo se esta história é real e se eu acredito nela e se meu irmão ou minha mãe se lembra disso, mas em uma coisa eu estou certo: eu vi o Papai Noel e mais do que isso foi ali que aprendi que o Natal não tem lógica, mas sim uma magia que nos transporta para um mundo infinitamente melhor.
Não fosse assim, a história do nascimento de Jesus Cristo seria banal, dentro de casa, normal, com alguma parteira ao lado de Maria. Mas não, foi mágica, foi especial, foi primorosa, assim como deve ser a nossa imaginação e nossa vida no Natal. Experimente ver o Papai Noel. Você vai amar esta experiência.