Eu prefiro evoluir a ser um “novo normal”

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 05/01/2021
Horário 05:30

Para mim, a expressão “novo normal” é muito vazia de significado. E piora enquanto sinaliza uma mudança significativa de vida em sociedade porque simplesmente entendo que muitas pessoas não serão “novos normais” nunca. Serão mais do mesmo sempre, colocando as manguinhas de fora toda vez que alguma grande liderança deles chegar ao poder.

Falo de um pessoal que não consegue ou não admite usar máscara para sair de casa ou não tem o mínimo de empatia e compaixão a ponto de deixar de dar um rolê aglomerado, frequentar uma festa clandestina ou até de comprar um “tupperware” no 1,99. Entende? Vamos contar com eles para promover alguma mudança histórica na humanidade? Sério mesmo? Os pingaiada do “sextou”? A moça que pediu para ser “intubada” em festa? Os cloroquiners e negacionistas? Os contra vacina? Quem acha que a vacina chinesa tem chip e o Butantã só tem competência para fazer veneno de cobra?

Políticos se estapeiam em decisões ridículas sobre quem tem a “injeção” de vacina maior, aparelham instituições importantes, jogam culpas uns em cima dos outros e eu tenho mesmo que acreditar que vamos sair melhores dessa com esse povo no poder? 

E enquanto esperam presidentes e governadores se entenderem, os grandes grupos farmacêuticos lucram ainda mais. Ações sobem ao sabor das eficácias de 90% das vacinas e da inércia de governos como o brasileiro, que indiretamente irá promover um verdadeiro boom de vacinas “privadas”. Explico: não duvido que apesar de toda esta conversa de plano de imunização atender grupos x, y e z da população mais necessitada, a situação será a seguinte: a vacina vai chegar mais cedo nos centros, clínicas e hospitais particulares, que conseguirão autorização tranquila dos órgãos competentes, e será administrada em quem tiver grana para pagar. O povo que lute depois e aguarde estes governos decidirem trabalhar de fato em prol da imunização total.

Como eu vou acreditar em um plano de vacinação geral no Brasil, se o presidente é contra a própria vacina? Como é que vou botar fé em setores importantes da sociedade se eles próprios dão tiros no pé? Você já ouviu prestadores de serviço serem contra a vacinação? Eu já e dizem isso enquanto reclamam que a procura reduziu, os clientes sumiram das lojas. Como é que eles querem que tudo volte ao normal, sem a vacinação, sabidamente o método mais promissor para vida voltar ao normal? Só há coerência aqui entre aqueles que além de não acreditarem na vacina, também não creem na veracidade e letalidade do vírus ou que ele seja de fato parte de uma política necrófila necessária, em que a lógica da doença serve para matar alguns e fortalecer outros. Coerência, mas não normalidade. 

Se é esta tipagem humana que irá compor o “novo normal” eu me recuso a retornar à vida besta de sempre depois desta pandemia. E tenho esta convicção por um motivo bem simples: embora arrastados para este mar de lama pandêmico e da iminência de morrer, muitos de nós conseguiram passar um ano inteiro vivos, um pouco (ou muito) abalados, mas passamos, com máscaras, fé nas vacinas, cuidadosos e isolados socialmente quando possível. Isso não é “novo” e nem “normal”. Isso é evolução. É pensar um pouco mais à frente, sem se deixar levar por ideologias baratas ou personagens mitômanos e crescer diante das adversidades. E eu estou nesta vibe. Pode apostar.

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