Gakiya: “Evidentemente eu temo pela minha vida”

Nova carta com ordem para matar promotor de Justiça foi apreendida; segurança tem sido cada vez mais reforçada

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 24/09/2020
Horário 10:21
Roberto Kawasaki/Arquivo - Gakiya foi o autor do pedido de transferência a presídios federais
Roberto Kawasaki/Arquivo - Gakiya foi o autor do pedido de transferência a presídios federais

O nome do promotor de Justiça, Lincoln Gakiya, continua na lista daqueles que foram jurados de morte pela facção criminosa paulista. Na quinta-feira da semana passada, uma nova carta com ordem contra a vida do promotor foi apreendida na Penitenciária Silvio Yoshihiko Hinohara, em Presidente Bernardes. A O Imparcial, o representante do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MPE (Ministério Público Estadual), passou detalhes sobre a apreensão. 

O manuscrito foi encontrado no cós da calça de um detento condenado a 17 anos de prisão por roubo e tráfico de drogas.

De acordo com Gakiya, o acusado havia passado por atendimento virtual com um oficial de Justiça, e na sequência iria para uma consulta odontológica. No entanto, durante a revista pessoal o material foi encontrado e apreendido.

“Na nossa opinião, possivelmente ele esperava se encontrar com outro preso durante a consulta, porque é comum, quando pedem atendimento, eles cruzarem com outros de demais pavilhões”, explica. A carta seria entregue para um terceiro, que a repassaria para o lado de fora.

Conforme o promotor, acredita-se que ela seria entregue a integrantes da sintonia restrita - setor da facção paulista composto por integrantes em liberdade, alguns já egressos do sistema prisional, e outros sem passagens pela polícia. Eles são responsáveis por atentados contra a vida de agentes públicos, inclusive, já mataram agentes penitenciários federais.

“Foram apreendidos documentamos que comprovam a função destinada a esses integrantes da sintonia restrita, que estão à disposição da facção e recebem dinheiro para isso”, afirma.

Em um dos trechos da carta a qual O Imparcial teve acesso, o detento diz: "Meus irmãos, esse japonês [...] está desacreditando da força que a nossa organização tem aqui dentro do Estado, está fazendo diversas injustiças contra nossos irmãos e até mesmo colocando todas as (lideranças) dentro dos presídios federais!"

Ainda: "Vale lembrar que temos o aval e até mesmo todo o apoio do comando para acabar com a vida desse tirano, e mandar ele para o lugar que ele merece".

"Vamos pedir uma atenção para nossos irmãos que se encontram na externa para concluir a (missão) o mais breve possível".

Promotor teme pela vida

O plano para matar promotor já dura pelo menos dois anos, em represália ao pedido de transferência de membros da facção a presídios federais, o que se concretizou no começo do ano passado sob forte esquema de segurança. Desde então, Gakiya e outras autoridades estão na mira dos faccionados.

Devido às apreensões recentes, a segurança do promotor, que conta com apoio do grupo de elite da Polícia Militar, foi ainda mais reforçada. 

Durante a entrevista, a reportagem perguntou ao promotor: “o senhor teme pela sua vida?” A reposta foi: “Com certeza!”. “A partir do momento em que eu perder o temor, deixo de tomar os cuidados necessários. Não podemos desacreditar de nenhuma informação”, salienta. “Costumo falar que não é uma carta endereçada a mim para ameaçar, ou uma ameaça por telefone, algo desse tipo. É algo que estava oculto com o preso, assim como em outras situações encontradas, e que possivelmente não era para ser encontrada”, explica Gakiya.

Conforme o promotor, a ordem já foi dada e o plano está em andamento. Porém, graças ao serviço de inteligência, que “tem funcionado”, não houve a concretização. "Evidentemente eu temo pela minha vida, mas não é isso que vai me fazer parar de combater e agir contra a facção”. 

Em nota encaminhada a O Imparcial, o Ministério Público de São Paulo informou que tomou conhecimento da carta apreendida após receber um ofício da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária). Conforme o órgão estadual, o caso está sendo analisado pelo Gaeco.

O preso que cumpria pena em Presidente Bernardes foi transferido para a Penitenciária Zwinglio Ferreira, de Presidente Venceslau, onde aguarda o pedido de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) enquanto ocorre a investigação. 

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