O número impressiona: 11.402 atendimentos em apenas um mês. Outubro foi o mais movimentado da história do HE (Hospital de Esperança), em Presidente Prudente, que hoje concentra o principal fluxo de pacientes oncológicos do oeste paulista.
Entre cirurgias, internações, consultas, sessões de quimioterapia e radioterapia, o hospital alcançou também uma marca simbólica — mais de 400 atendimentos por dia. É um retrato da crescente procura por tratamento de câncer em uma região que, até poucos anos atrás, dependia de longos deslocamentos até centros como Barretos, Jaú ou São Paulo.
A radioterapia respondeu por 1.815 sessões. O Centro de Diagnóstico por Imagem, 4 mil exames. As consultas ambulatoriais chegaram a 3.326, seguidas por 1.198 aplicações de quimioterapia, 407 internações, 289 cirurgias e 367 atendimentos de urgência.
Somados, formam um cenário de alta complexidade que vem se expandindo ano após ano — reflexo de investimento constante em tecnologia e da confiança crescente da população. “Os números contam parte da história. A outra parte está nas pessoas que agora conseguem tratar perto de casa, com dignidade e menos desgaste”, diz a diretoria do hospital.
Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Brasil deve registrar cerca de 704 mil novos casos anuais entre 2023 e 2025 — sendo o Estado de São Paulo responsável por mais de 125 mil diagnósticos por ano. A escalada dos casos tem pressionado as estruturas de saúde, especialmente nas regiões mais afastadas dos grandes polos médicos.
No interior, o desafio é duplo: garantir acesso ao tratamento e reduzir o tempo entre diagnóstico e início da terapia. O HE, criado por mobilização popular e mantido por doações e parcerias com o SUS (Sistema Único de Saúde), preenche exatamente esse vácuo.
Atende pacientes de mais de 45 municípios, uma população de quase 1 milhão de habitantes. E faz isso com uma lógica que une eficiência e cuidado humano: consultas, cirurgias, radioterapia, quimioterapia e exames concentrados em um mesmo espaço, o que reduz a peregrinação dos pacientes por diferentes cidades.
Para entender o impacto disso, basta imaginar o senhor João, 62 anos, morador de Teodoro Sampaio. Até pouco tempo atrás, um diagnóstico de câncer significava viajar centenas de quilômetros até Barretos. Hoje, João faz todo o tratamento em Prudente, a menos de duas horas de casa.
Parece simples, mas essa proximidade muda tudo: o tempo de resposta ao tratamento, o apoio emocional da família, o custo, o ânimo. “É poder voltar para casa no mesmo dia, dormir na própria cama e acordar para lutar de novo”, resume uma das enfermeiras que atua no setor de quimioterapia.
O Hospital de Esperança não é apenas uma estrutura física. É o resultado de uma década de esforço coletivo — voluntários, médicos, doadores, prefeituras e pacientes que transformaram uma ideia em uma rede viva de cuidado.
A instituição opera com mais de 300 profissionais e mantém o atendimento 100% gratuito. A combinação de técnica e empatia virou marca registrada.
Em meio ao avanço estatístico do câncer no país, o HE funciona como uma espécie de contrapeso — um lembrete de que o interior também pode oferecer medicina de ponta, sem perder o rosto humano do cuidado.
“Ultrapassar os 11 mil atendimentos é simbólico. Mas o mais importante é o que não cabe nos números: o olhar de quem chega assustado e sai com esperança”, afirma a direção.
Idealizado nos anos 90, a instituição iniciou os atendimentos em 2015 a partir da mobilização da sociedade civil. Assim, o Hospital de Esperança de Presidente Prudente consolidou-se como um dos maiores polos filantrópicos de oncologia do interior paulista. Mantém parceria com o Sistema Único de Saúde e oferece atendimento integral em diagnóstico, cirurgia, quimioterapia, radioterapia e internações.
Hoje, é o principal destino de pacientes oncológicos de toda a região. E outubro — com seus 11.402 atendimentos — marca não só um recorde, mas uma constatação: o hospital que nasceu da solidariedade se tornou uma das engrenagens vitais da saúde pública regional.