Em pleno século 21, a sociedade ainda convive com uma ferida social exposta e persistente: a população em situação de rua. Em Presidente Prudente, segundo levantamento recente da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), 308 pessoas vivem atualmente nas ruas da cidade. O número é alarmante não apenas por sua magnitude, mas porque cada dado representa uma vida — com nome, história, sonhos interrompidos e direitos negligenciados.
Apesar da existência de políticas públicas e de uma rede de apoio em funcionamento, como o Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social), o problema continua latente, desafiando a sociedade e o poder público a olharem além da superfície. O Seas atua de forma integrada com órgãos de segurança, como a Polícia Militar, no enfrentamento de situações complexas como o trabalho infantil, a exploração sexual de menores, o uso abusivo de drogas e a própria situação de rua. Mas é preciso reconhecer que ainda é pouco diante da imensidão do problema.
A população em situação de rua é resultado de uma engrenagem social que falha em diversos níveis: a desigualdade econômica, o desemprego, a desestrutura familiar, os transtornos mentais, a dependência química e a ausência de políticas de habitação eficazes. São cidadãos que, muitas vezes, não encontram espaço nas soluções convencionais. Em vez disso, são empurrados para a margem, literalmente para as calçadas, onde sobrevivem entre o frio, a fome, a violência e o preconceito.
Aos olhos de muitos, tornam-se invisíveis. Mas a invisibilidade não é sinônimo de inexistência. O que falta, frequentemente, é empatia, continuidade nas políticas públicas e ações mais estruturais. Não bastam abordagens pontuais ou assistencialismo temporário. É necessário um esforço contínuo que envolva saúde, habitação, educação, capacitação profissional e reinserção social. E mais: é preciso ouvir essas pessoas, entender suas histórias, acolher suas dores e construir caminhos reais de superação.
Enquanto a sociedade continuar tratando a situação de rua como um problema estético ou de segurança pública, ao invés de uma questão humanitária e estrutural, a realidade continuará a se repetir. São necessárias políticas públicas mais ousadas, com financiamento adequado, acompanhamento individualizado e, acima de tudo, vontade política de transformar realidades.
Presidente Prudente tem dado passos importantes. A existência de programas como o Seas é prova disso. Mas é preciso ir além. É hora de deixar de apenas contar essas vidas nas estatísticas e começar a contá-las nas soluções. Ninguém deveria chamar a rua de lar.