João de Deus

“O ser biológico se transforma em ser humano quando experiências, inicialmente biológicas, podem ser transformadas em fatos mentais. Essa transformação permite pensar a realidade, isto é, dar-lhe significado. Esses fatos mentais se tornam significativos graças à capacidade de simbolizar”, diz o psicanalista Roosevelt Moisés Smeke Cassorla. E mais, ele diz que “símbolos são artefatos que representam a realidade em sua ausência”. Eu pergunto ou convido a todos a refletirem sobre um questionamento que me instiga. O que você faz, diante de angustias, vazios, desconfortos emocionais, sofrimento por perdas ou lutos, ameaça de morte iminente e doenças como transtornos psicopatológicos?

Você direciona para soluções mágicas como as drogas ou vícios em gerais, como drogas lícitas ou ilícitas, compulsões pela compra, alimentar, jogos, fanatismos, ou aos “Joãos de Deus” da vida? Os “Joãos de Deus”, médicos como “Roger Abdelmassih” estão por todos os lugares do planeta. Estão esperando por pessoas despreparadas, incapacitadas, sem autoconhecimento, intolerantes às frustrações, frágeis, desamparadas, ego fragmentado, ou seja, a espera de um milagre. Quem dá existência para os “Joãos de Deus” na sociedade são as pessoas que o procuram acreditando que possam existir milagres para amenizar sua dor. Não existem milagres.

Vamos pensar em como vive o masoquista (pessoa que tem prazer pelo sofrimento). Ele sobrevive porque existe o sádico (pessoa que tem prazer em fazer o outro sofrer). Um alimenta libidinalmente o outro. O escopofílico (uma pessoa que tem prazer em espiar) existe, porque existe o exibicionista (uma pessoa que tem prazer em chamar a atenção). O par se dá em completude. Como existe os “Joãos de Deus”? O pensamento está no ar à espera de uma mente pensante. Atrações de afinidades encontram-se. Assim: João de Deus procura presas desamparadas, desprovidas de um pensamento coerente, e a presa em ressonância encontra-se em pensamento com ele.

Encontros. Precisamos fortalecer nosso pensamento. É preciso colocar nosso aparelho mental para pensar os pensamentos. Eles soltos e fragmentados vão em direção da loucura. O importante é pensar que precisamos entender que não podemos tudo. Há perdas, lutos, desempregos, divórcios, falência, crises e temos que ir aos poucos tolerando desajustes temporários. Não há mal que tanto dure, bem que tanto perdure. É o sentido da vida. Perdas e ganhos. Preto e branco. Morte e vida. Precisamos ser resilientes. O tempo traz respostas. É vital entender que tudo pode ser transformado a partir de nós mesmos. Só nós podemos. A busca pelo autoconhecimento é importante. Saber tolerar e dar significado ao tédio, faltas, vazios existenciais ou angustias é ir em direção da simbolização.

É preciso ficar longe de charlatães. A fragilidade é que os alimentam. João de Deus estava lá, a espera. Como psicanalista, a impressão que tenho é como se todas as mulheres supostamente abusadas sexualmente por João de Deus foram submetidas à hipnose. Por um efeito catártico advindo da histeria. É preciso conscientização de que existem profissionais especializados e muito bem recomendados. Verdade, ética, empatia, profissionalismo e muita realidade cientificamente comprovada, fazem parte do repertorio de profissionais capacitados.

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